"De momento não sei nada: estive todo o dia num interrogatório. A procuradoria alemã esteve a interrogar-me a pedido das autoridades russas", escreveu Navalny na rede social Twitter, segundo a agência noticiosa espanhola EFE.
Também hoje, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, expressou dúvidas quanto à disposição da Rússia em contribuir para o esclarecimento do envenenamento do líder da oposição russa.
Navalny, que falava a propósito de uma conferência de imprensa dada hoje pelo presidente russo, Vladimir Putin, a quem acusou de ordenar o seu assassínio, não deu pormenores sobre o interrogatório que, segundo a rádio russa Echo Moscow, resultou de um pedido de assistência jurídica da Procuradoria-Geral da Rússia no âmbito de uma investigação sobre a sua hospitalização.
Após ter visto o vídeo da conferência de imprensa, Navalny divulgou outra mensagem: "Putin reconheceu tudo. No seu estilo (CIA-CIA), mas reconheceu. Percebeu que é impossível refutar as nossas provas".
O chefe de Estado russo afirmou na conferência de imprensa que Navalny não foi envenenado pelos seus serviços especiais, porque nesse caso estaria morto, acusando os serviços secretos dos Estados Unidos de fomentarem as alegações de que o Kremlin esteve por trás do envenenamento do seu opositor.
Putin rejeitou uma recente investigação de vários meios de comunicação social, incluindo o Bellingcat, CNN e Der Spiegel, alegando que os serviços secretos russos FSB estiveram por trás da tentativa de assassínio de Navalny, considerando tratar-se apenas da "legitimação de conteúdos (preparados) pelos serviços especiais norte-americanos".
Segundo a investigação jornalística, agentes do FSB especialistas em armas químicas vigiavam o opositor desde 2017 e estavam a 20 de agosto em Tomsk, cidade na Sibéria onde Navalny terá sido envenenado.
No entanto, o artigo não apresenta provas de contacto direto entre os agentes e o opositor, nem de um ato ou ordem dada.
Navalny sentiu-se mal e desmaiou a 20 de agosto durante um voo doméstico na Rússia e foi transportado dois dias depois em coma para a Alemanha para ser tratado. Laboratórios na Alemanha, França e Suécia, assim como a Organização para a Proibição de Armas Químicas demonstraram que esteve exposto a um agente neurológico Novichok da era soviética.
As autoridades russas têm rejeitado todas as acusações de envolvimento no envenenamento.
Numa conferência de imprensa hoje ao lado do secretário-geral da ONU, António Guterres, o chefe da diplomacia alemã considerou que "a Rússia teve ocasiões suficientes nas últimas semanas e meses" para contribuir "com a parte que só pode vir desse lado" para o esclarecimento das circunstâncias do envenenamento "ou pelo menos para abrir uma investigação".
"Nunca foi o caso", pelo que a Alemanha tem "sérias dúvidas acerca da disposição" da Rússia para cumprir com o que lhe é pedido, indicou.
Heiko Maas disse que a Alemanha entregou as suas conclusões à Organização para a Proibição de Armas Químicas, que deve identificar possíveis infrações à respetiva convenção.
Indicando que "todos os resultados são muito evidentes", Maas considerou "correta" a decisão da União Europeia de impor sanções à Rússia.