Segundo o Instituto Butantan, centro de investigação científica de São Paulo que coordena a testagem da Coronavac no Brasil, foi o próprio Sinovac Biotech, laboratório chinês que criou a vacina, que impediu a divulgação dos dados, devido a uma cláusula no contrato.
"Temos um contrato com a Sinovac que especifica que o anúncio deste número precisa de ser feito em conjunto, no mesmo momento. Então, ontem [terça-feira] apresentámos esses números à nossa parceria que, no entanto, solicitou que não houvesse a divulgação do número pelo motivo que eles necessitam analisar cada um dos casos para poder aplicá-los à agência NMPA [Associação Nacional de Produtos Médicos], que é a agência reguladora da China", disse o diretor do Butantan, Dimas Covas.
Segundo as autoridades de São Paulo, o estado brasileiro mais afetado pela pandemia de covid-19, o laboratório chinês quer unificar e equalizar os dados com os ensaios feitos em outros países, como Turquia e Indonésia, para evitar que índices diferentes sejam divulgados.
Em conferência de imprensa, Dimas Covas afirmou que, além de comprovar que a vacina é segura, o estudo da fase três mostrou que o imunizante tem uma eficácia superior a 50%, recusando-se, porém, a revelar esse índice.
"Recebemos também os dados de eficácia. Nós atingimos o limiar da eficácia que permite o processo de solicitação de uso de emergência da vacina, seja aqui no Brasil, seja na China", declarou Covas.
Já o secretário de Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, informou que a eficácia da Coronavac calculada pelo estudo do Butantan foi diferente da eficácia verificada em outros países em que a vacina foi aplicada, podendo ter sido essa discrepância nos dados que motivou o atraso na divulgação final, segundo a imprensa local.
"Eles [Sinovac] entenderam o facto de nós termos eficácia superior a isso [50%], porém, diferente de outros países em que essa vacina está em uso, merecendo uma reavaliação", explicou Gorinchteyn.
"Não pode haver uma eficácia aqui, uma lá e outra acolá. É isso que a própria empresa entendeu. Ela quer isonomia. Ela quer que todos os resultados sejam iguais, sem nenhuma disparidade", completou.
O adiamento dos dados que comprovam a eficácia gerou desilusão e protestos junto dos brasileiros, que fizeram notar o seu descontentamento ao longo da transmissão da conferência de imprensa nas redes sociais: "Lamentável este novo adiamento", "triste, estava esperançosa", "O Butantan não sabia dessa cláusula do contrato antes?", "que desilusão fazerem essa conferência de imprensa sem dados", escreveram alguns cibernautas.
Esta não é a primeira vez que a divulgação é adiada. A previsão inicial era a de que os dados fossem apresentados em 15 de dezembro, no entanto, a data passou para hoje, sendo adiada novamente e sem que haja uma previsão oficial para a efetiva difusão do relatório.
O Butantan tinha também previsto para hoje o envio dos dados de eficácia à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador brasileiro.
A taxa mínima recomendada pela Anvisa como parâmetro de proteção para aprovação da vacina é de 50%.
A Coronavac, desenvolvida pelo laboratório Sinovac e que será produzida pelo Butantan, já havia demonstrado ser segura e capaz de provocar resposta imune em até 97% dos participantes de etapas anteriores do estudo, feitas na China.
O secretário de Saúde do estado de São Paulo disse ainda que, apesar do atraso, a vacinação no estado terá início em 25 de janeiro.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (188.259, em mais de 7,3 milhões de casos), depois dos Estados Unidos.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.718.209 mortos resultantes de mais de 77,9 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.