Há mesmo mais um presente no sapatinho, o longo e aguardado acordo entre o Reino Unido e a União Europeia foi alcançado, poucos dias antes do prazo definido. A cerca de uma semana do final do "período de transição" para a consumação do Brexit, e após 10 meses de negociações que por diversas vezes pareceram definitivamente condenadas ao fracasso, agora os britânicos e a União Europeia chegaram a um entendimento comercial para o pós-Brexit.
UE - "Está na altura de virar a página"
Em declarações logo após o anúncio, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen confirma: "Chegámos finalmente a um acordo". "Foi uma estrada longa e sinuosa", mas "temos um bom acordo", disse, descrevendo-o como "justo e equilibrado". Von der Leyen garantiu ainda que a UE vai continuar a cooperar com o Reino Unido em "todas as áreas de interesse mútuo".
"Está na altura de virar a página e olhar para o futuro", garantiu, confessando sentir "tranquilidade, satisfação e alívio". "O que chamamos início é normalmente um fim e para fazer um fim é fazer um início. É altura de deixar o Brexit para trás, o nosso futuro é feito na Europa", rematou.
Reino Unido - "Recuperámos o controlo"
Em conferência de imprensa, esta tarde, Boris Johnson congratulou-se pelo acordo pós-Brexit e garantiu que vai "proteger empregos em todo o país". "Recuperámos o controlo das nossas leis e do nosso destino", disse, acrescentando que o Reino Unido vai agora ser um país “dinâmico e próspero", o que "não é uma coisa má" para a UE.
WATCH LIVE: Prime Minister @BorisJohnson outlines details of the future partnership with the EU. https://t.co/arhr3DpsTh
— UK Prime Minister (@10DowningStreet) December 24, 2020
Anteriormente já tinha recorrido ao Twitter para dar conta da sua satisfação com o acordo alcançado. "O acordo está feito", escreve.
The deal is done. pic.twitter.com/zzhvxOSeWz
— Boris Johnson (@BorisJohnson) December 24, 2020
As reações por cá
O primeiro-ministro português, António Costa, recorreu ao Twitter para "saudar vivamente" o acordo alcançado e recordar que “o Reino Unido continuará a ser, além de nosso vizinho e aliado, um parceiro importante".
We warmly welcome the agreement reached with the United Kingdom on the relationship with the EU from 1 January. UK will remain, in addition to our neighbor and Ally, an important partner. Our thanks to @vonderleyen, @MichelBarnier and the EU Negotiating Team for their hard work.
— António Costa (@antoniocostapm) December 24, 2020
Por seu lado, Marcelo Rebelo Sousa também felicitou o "histórico acordo". “O Presidente da República felicita a Comissão Europeia e o Governo Britânico pelo histórico acordo hoje concluído para regular as futuras relações entre a União Europeia e o nosso mais antigo aliado, o Reino Unido”, escreveu Marcelo Rebelo de Sousa, numa nota publicada no site da Presidência da República.
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros considerou que o acordo comercial pós-Brexit alcançado entre a União Europeia (UE) e o Reino Unido "significa muito para Portugal". Para Augusto Santos Silva, "é uma boa notícia" para quem vive e trabalha "em países amigos".
Apesar de o Parlamento Europeu já não ter tempo de ratificar um acordo comercial nos poucos dias que restam até ao final do ano, os Estados-membros da UE podem aprovar a entrada em vigor com cariz provisório de um acordo comercial com Londres em 1 de janeiro de 2021. Os negociadores da UE e do Reino Unido trabalharam durante a noite e até à véspera de Natal para dar os retoques finais num acordo comercial destinado a evitar uma rotura caótica entre os dois lados no dia de Ano Novo.
Depois de resolver questões pendentes sobre concorrência justa e quase todas as divergências sobre pescas na quarta-feira, os negociadores vasculharam centenas de páginas de textos jurídicos vão definir o relacionamento pós-Brexit entre britânicos e os 27.
Como durante grande parte das negociações ao longo de nove meses, a questão das frotas pesqueiras da UE em águas britânicas provou ser a mais complicada, forçando os negociadores a discutir quotas para algumas espécies até ao amanhecer.
Mesmo com um acordo, a partir de 1 de janeiro vão passar a ser feitos controlos alfandegários e exigida burocracia adicional porque o Reino Unido passa a ser um país terceiro e deixa de ser membro do mercado único do bloco e da união aduaneira.Um acordo comercial apenas evita a imposição de taxas aduaneiras que poderiam custar aos dois lados muitos milhões em comércio e centenas de milhares de empregos e passarem a aplicar as condições da Organização Mundial do Comércio.
O próprio governo britânico reconheceu que uma ausência de acordo resultaria em atrasos na circulação de mercadorias nos portos para a UE, escassez temporária de alguns produtos e aumento de preços de alimentos básicos, além de tarifas de 10% sobre exportações de automóveis e 40% na carne de borrego.
O texto do acordo, que terá mais de 2.000 páginas, terá agora de ser aprovado pelo parlamento britânico, num processo encurtado e acelerado entre o Natal e o Ano Novo.
[Notícia atualizada às 15h48]
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