Covid-19: UE reclama libertação imediata de jornalista Zhang Zhan
A União Europeia reclamou hoje a "libertação imediata" da jornalista independente Zhang Zhan, que noticiou o surto inicial da covid-19 em Wuhan, bem como de outros detidos que reportaram informação de interesse público e ativistas dos direitos humanos.
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Mundo Covid-19
Em comunicado, o porta-voz do Alto Representante da UE para a Política Externa começa por salientar que "as restrições à liberdade de expressão, acesso à informação, intimidação e vigilância de jornalistas, assim como detenções, julgamentos e condenações de defensores dos direitos humanos, advogados e intelectuais na China estão a crescer e continuam a ser fonte de grande preocupação" para a UE.
No caso concreto de Zhang Zhan, condenada na segunda-feira por um tribunal de Xangai a quatro anos de prisão por "causar distúrbios e provocar problemas", o porta-voz de Josep Borrell aponta que, "segundo fontes credíveis", a jornalista "foi sujeita a tortura e maus-tratos durante a sua detenção e o seu estado de saúde deteriorou-se seriamente", sendo "crucial que receba assistência médica adequada".
O porta-voz recorda ainda a recente condenação, igualmente a quatro anos de prisão, do advogado de direitos humanos Yu Wensheng, sem que os advogados de defesa tivessem tido a possibilidade de apresentar uma declaração de defesa, como previsto na lei.
Deste modo, a UE reclama a Pequim "a libertação imediata de Zhang Zhan, de Yu Wensheng e de outros defensores dos direitos humanos detidos e condenados, incluindo Li Yuhan, Huang Qi, Ge Jueping, Qin Yongmin, Gao Zhisheng, Ilham Tohti, Tashi Wangchuk, Wu Gan, Liu Feiyue, assim como de todos aqueles que se dedicaram a reportar atividades do interesse público".
A jornalista Zhang Zhan viajou para Wuhan, em fevereiro passado, para reportar sobre o surto da covid-19 e a subsequente campanha de prevenção contra a doença e tratamento dos pacientes, mas desapareceu, em maio, sendo mais tarde revelado que fora detida pela polícia em Xangai, no leste da China.
Zhang Zhan, cuja libertação também já foi reclamada pela ONU, foi condenada por "causar distúrbios" e "procurar problemas", uma acusação frequente contra jornalistas e ativistas dos Direitos Humanos na China, segundo o jornal Apple Daily, que citou um dos advogados.
A jornalista recusou-se a admitir as acusações, considerando que as informações publicadas por si em plataformas chinesas como o WeChat ou nas redes sociais Twitter e YouTube não deveriam ter sido censuradas.
De acordo com a Amnistia Internacional (AI), o seu trabalho em Wuhan focou-se no relato das prisões de outros repórteres independentes e o assédio de familiares de vítimas do novo coronavírus.
A organização Defensores dos Direitos Humanos na China revelou, em setembro passado, que a jornalista tinha sido presa por informar que os cidadãos de Wuhan receberam comida estragada, durante as 11 semanas de confinamento da cidade, ou que foram obrigados a pagar para realizarem testes de deteção do coronavírus.
Zhang Zhan, que foi presa no final de maio, iniciou uma greve de fome em setembro, o que fez com que ficasse numa condição física "muito fraca", segundo a sua defesa, que afirmou que as autoridades a alimentaram à força, recorrendo a um tubo.
Vários outros jornalistas independentes que viajaram para Wuhan no início do surto foram detidos ou desapareceram na China, enquanto as autoridades restringiram a cobertura e a imprensa oficial enalteceu a resposta de Pequim como eficaz e oportuna.
Em fevereiro, Chen Qiushi, que transmitiu vídeos ao vivo de Wuhan durante o bloqueio da cidade e difundiu reportagens nas redes sociais, desapareceu também. Dois outros jornalistas independentes - Li Zehua e Fang Bin - também foram detidos após cobrirem o surto em Wuhan.
No entanto, Zhang Zhan foi a primeira jornalista a ser formalmente punida com pena de prisão.
A China é o país que mais jornalistas detém no mundo, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
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