"Pedimos ao governo da República Popular da China que a liberte imediatamente e incondicionalmente", afirmou o secretário de Estado Mike Pompeo acerca de Zhang Zhan, condenada a quatro anos de prisão na segunda-feira, em Xangai.
Em comunicado, Pompeo disse ainda que o "Partido Comunista Chinês mostrou mais uma vez que fará tudo ao seu alcance para silenciar aqueles que questionam a linha oficial do partido, mesmo que se trate de informações cruciais de saúde pública".
A exigência dos Estados Unidos surge depois de também a União Europeia ter reclamado hoje a "libertação imediata" da jornalista independente, que noticiou o surto inicial da covid-19 em Wuhan, bem como de outros detidos que reportaram informação de interesse público e ativistas dos direitos humanos.
Em comunicado, o porta-voz do Alto Representante da UE para a Política Externa começa por salientar que "as restrições à liberdade de expressão, acesso à informação, intimidação e vigilância de jornalistas, assim como detenções, julgamentos e condenações de defensores dos direitos humanos, advogados e intelectuais na China estão a crescer e continuam a ser fonte de grande preocupação" para a UE.
A jornalista Zhang Zhan viajou para Wuhan, em fevereiro passado, para reportar sobre o surto da covid-19 e a subsequente campanha de prevenção contra a doença e tratamento dos pacientes, mas desapareceu, em maio, sendo mais tarde revelado que fora detida pela polícia em Xangai, no leste da China.
Zhang Zhan, cuja libertação também já foi reclamada pela ONU, foi condenada por "causar distúrbios" e "procurar problemas", uma acusação frequente contra jornalistas e ativistas dos Direitos Humanos na China, segundo o jornal Apple Daily, que citou um dos advogados.
A jornalista recusou-se a admitir as acusações, considerando que as informações publicadas por si em plataformas chinesas como o WeChat ou nas redes sociais Twitter e YouTube não deveriam ter sido censuradas.
De acordo com a Amnistia Internacional (AI), o seu trabalho em Wuhan focou-se no relato das prisões de outros repórteres independentes e o assédio de familiares de vítimas do novo coronavírus.
A organização Defensores dos Direitos Humanos na China revelou, em setembro passado, que a jornalista tinha sido presa por informar que os cidadãos de Wuhan receberam comida estragada, durante as 11 semanas de confinamento da cidade, ou que foram obrigados a pagar para realizarem testes de deteção do coronavírus.
Zhang Zhan, que foi presa no final de maio, iniciou uma greve de fome em setembro, o que fez com que ficasse numa condição física "muito fraca", segundo a sua defesa, que afirmou que as autoridades a alimentaram à força, recorrendo a um tubo.
Vários outros jornalistas independentes que viajaram para Wuhan no início do surto foram detidos ou desapareceram na China, enquanto as autoridades restringiram a cobertura e a imprensa oficial enalteceu a resposta de Pequim como eficaz e oportuna.
Em fevereiro, Chen Qiushi, que transmitiu vídeos ao vivo de Wuhan durante o bloqueio da cidade e difundiu reportagens nas redes sociais, desapareceu também. Dois outros jornalistas independentes - Li Zehua e Fang Bin - também foram detidos após cobrirem o surto em Wuhan.
No entanto, Zhang Zhan foi a primeira jornalista a ser formalmente punida com pena de prisão.
A China é o país que mais jornalistas detém no mundo, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).