Capitólio invadido, confrontos pró-Trump e a (quase) vitória de Biden

Pelo menos uma mulher morreu baleada e várias pessoas transportadas para o hospital durante os confrontos entre os manifestantes pró-Trump e as autoridades.

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Notícias ao Minuto com Lusa
06/01/2021 21:34 ‧ 06/01/2021 por Notícias ao Minuto com Lusa

Mundo

EUA

A invasão do Capitólio por apoiantes do presidente cessante norte-americano, Donald Trump, inviabilizou, esta quarta-feira, a ratificação, por parte do Colégio Eleitoral, da vitória do democrata Joe Biden nas eleições de 03 de novembro. Enquanto a discussão prosseguia no Senado e na Câmara de Representantes, a polícia do Capitólio começou a evacuar alguns prédios de escritórios do Congresso, por causa da presença de milhares de apoiantes de Trump, que se manifestaram hoje em Washington e se deslocaram para o local onde estavam a ser ratificados os resultados eleitorais. 

Segundo os serviços de emergência locais uma pessoa ficou em estado crítico após ser baleada, tendo acabado por morrer e pelo menos cinco pessoas - incluindo um agente da polícia - foram transportadas para o hospital. Agentes da polícia tiveram de usar armas de fogo para proteger congressistas durante os incidentes.

ao fim de quase quatro horas é que as autoridades declararam que o edifício do Capitólio está finalmente em segurança após agentes das forças de segurança fortemente armados porem fim à ocupação por manifestantes pró-Trump. Pouco antes o presidente cessante recorria de novo ao Twitter para se dirigir aos manifestantes, mas sem condenar os atos. "Isto é o que acontece quando uma vitória eleitoral sagrada e esmagadora é cruelmente e sem cerimónias retirada de grandes patriotas que foram mal e injustamente tratados por tanto tempo. "Vão para casa com amor e em paz. Lembrem-se deste dia para sempre", escreveu, tendo o tweet sido apagado pouco depois.

Como tudo se passou

Trump tinha incitado inicialmente os apoiantes a deslocarem-se para a área do Capitólio e o inevitável aconteceu, com distúrbios provocados por vários apoiantes do presidente cessante que conseguiram entrar no edifício, obrigando à interrupção dos trabalhos, que seriam, posteriormente, suspensos. Num comício em frente à Casa Branca, Trump tinha pedido aos manifestantes para se dirigirem para o Capitólio e fazer ouvir a sua voz, em protesto contra o que considera ser uma "fraude eleitoral", tendo mesmo dito que "nunca" aceitaria a sua derrota nas eleições de 03 de novembro.

Os manifestantes obedeceram ao comando do presidente cessante e dirigiram-se para o Capitólio, tendo ultrapassado a oposição das forças de segurança. Minutos depois, agentes de segurança começaram a evacuar escritórios do Capitólio, por razões de segurança e, de seguida, aconselharam a suspensão dos trabalhos.

Logo a seguir, num novo "tweet", Trump apelou aos apoiantes que estão a manifestar-se para se manterem pacíficos. "Por favor, apoiem a nossa Polícia do Capitólio e as forças de segurança. Eles estão verdadeiramente do lado do nosso País. Mantenham-se pacíficos!", escreveu.

A confusão entretanto gerada levou o presidente da Câmara de Washington D.C. a ordenar o recolher obrigatório a partir das 18h00 locais (23h00 em Lisboa) e o Capitólio fechou as portas, com pedidos de reforço de outras forças policiais. As forças de segurança deram máscaras anti-gás aos legisladores que estavam em trabalho e começaram a evacuar a Câmara de Representantes e o Senado, retirando também das instalações o vice-presidente Mike Pence. (Pode ver algumas imagens na galeria acima)

Pouco depois, em mais um "tweet", Trump voltou a pedir aos manifestantes que se mantenham pacíficos, mas sem apelar ao fim dos protestos. "Peço a todos no Capitólio dos EUA que permaneçam pacíficos. Sem violência! Lembrem-se, NÓS somos o Partido da Lei e da Ordem - respeitem a Lei e os nossos fantásticos homens e mulheres de azul", escreveu Trump na rede social Twitter, numa referência aos agentes das forças de segurança.

Já antes, durante a tarde e pouco antes do início dos trabalhos da reunião conjunta do Senado e da Câmara dos Representantes, tinha sido travada uma guerra verbal entre Trump e o seu vice-presidente, Mike Pence, com o chefe de Estado cessante a pressioná-lo para que não permitisse que o Congresso ratifique os resultados eleitorais, tirando partido da sua função, por inerência do cargo, de presidente do Senado.

Em resposta, e à medida que os arredores do Capitólio se iam juntando milhares de apoiantes de Trump, Pence acabou por desafiar o ainda presidente, salientando que chefe de Estado cessante não tem o poder para rejeitar os votos eleitorais. Na ocasião, Pence argumentou com a Carta Magna dos Estados Unidos, lembrando o juramento que fez de "apoiar e defender a Constituição" o impede de "reivindicar autoridade unilateral para determinar quais os votos eleitorais que devem ser contados e quais os que não devem".

Após o início dos trabalhos, os republicanos no Congresso opuseram-se à contagem dos votos do Colégio Eleitoral do Arizona, forçando a uma votação sobre a vitória de Biden, ameaçando, paralelamente, contestar resultados noutros estados e perturbando a validação da vitória do candidato democrata. A objeção foi feita pelo representante Paul Gosar e foi assinada pelo senador do Texas Ted Cruz, ambos republicanos, obrigando as duas câmaras a resolver este desafio, através de uma votação, missão para a qual dispunham de duas horas.

Pelo meio, o líder republicano do Senado norte-americano, Mitch McConnell, ainda defendeu que anular a eleição presidencial "prejudicaria para sempre" a imagem da república, criticando a rejeição da contagem de votos do Arizona por legisladores do seu partido. "Se esta eleição for invalidada com base em alegações simples dos perdedores, a nossa democracia entrará numa espiral mortal", disse McConnell, numa menção que arrefeceu os ânimos do grupo de republicanos que pretendia responder aos apelos de Trump, que gostaria de ver anulados os resultados eleitorais.

McConnell deu o mote para os argumentos que vários representantes democratas repetiram nos minutos seguintes, alegando que a contestação dos resultados eleitorais carece de "provas ou fundamentos" e que, muitas vezes, são sustentados por "teorias da conspiração". Foi nesse tom que o líder democrata do Senado, Chuck Schumer, conduziu a oposição à objeção dos republicanos aos resultados no estado do Arizona, tentando evitar que a situação se repetisse para a contagem de votos noutros estados, como tinha sido antecipado pelo grupo de representantes apoiantes de Trump.

As reações

Joe Biden já reagiu entretanto à invasão do Capitólio por manifestantes pró-Trump na tarde desta quarta-feira. Numa conferência de imprensa em Wilmington, no estado do Delaware, o presidente eleito considerou que o ato dos manifestantes foi uma "insurreição".

De outras partes do mundo, as reações também não se fizeram esperar, com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a condenar as "cenas vergonhosas" da invasão do Capitólio, em Washington, por manifestantes pró-Trump e a apelar a uma transição "pacífica e ordenada" do poder para o democrata Joe Biden. O ministro dos negócios estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, condenou também as manifestações e a invasão por apoiantes de Donald Trump no Capitólio, em Washington, que constituem um "grave atentado contra a democracia".

Também o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, reagiu "com choque" aos violentos protestos e invasão do Capitólio nos Estados Unidos, apelando a uma "transferência pacífica de poder" para o presidente norte-americano eleito, Joe Biden. O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, classificou da mesma forma como chocantes as imagens da invasão do Capitólio norte-americano por manifestantes pró-Trump e apelou ao respeito pelos resultados das Presidenciais de novembro.

Por cá o primeiro-ministro António Costa recorreu ao Twitter para comentar a invasão do Capitólio por apoiantes de Donald Trump. "Acompanho com preocupação os desenvolvimentos em Washington. São imagens inquietantes", escreveu.

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