"Há erros amplamente conhecidos, mas de responsabilidade compartilhada" entre o executivo e os governadores, com uma discussão que "foi conduzida única e exclusivamente pelo lado político" por "ambos os lados", declarou Mourão, em entrevista ao jornal Valor Económico.
Para Mourão, a disputa entre o Governo federal, liderado por Bolsonaro, um dos chefes de Estado mais céticos quanto à gravidade da pandemia e os governadores "tomou uma proporção que não deveria tomar e sem resultados positivos".
No entanto, o vice-presidente não vê motivos para abrir um processo de destituição contra Bolsonaro por "crime de responsabilidade" pela sua gestão na pandemia. O Brasil registou quase 212 mil mortos e mais de 8,6 milhões de infetados.
"Por que vamos fazer o 'impeachment'? Vai chegar daqui ao ano que vem, e, se o Governo dele não for bom, ele não será reeleito, caso seja candidato à reeleição", disse Mourão.
O vice-presidente brasileiro acrescentou que em tese um Presidente "tem que ser parado pelo sistema de freios existente", caso coloque em risco a integridade do território e o sistema democrático. Mas pede que, no caso de Bolsonaro, se olhe menos para a retórica do que para suas ações.
O negacionismo e a falta de habilidade diplomática do Governo Bolsonaro ao nível internacional também tem dificultado o fornecimento dos ingredientes para o fabrico da vacina CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac, e da Covishield, imunizante desenvolvido pela AstraZeneca e a Universidade de Oxford, que precisam ser exportados para o Brasil da China e da Índia.
Segundo Mourão, se as negociações do Itamaraty com o Governo da China "fracassarem", ele próprio negociará com o seu homólogo chinês Wang Qishan para garantir o embarque dos consumíveis.
Sobre a situação de colapso sanitário e funerário na região amazónica, Mourão disse que a responsabilidade "cabe ao Estado em todos os níveis" e que também não lava "as mãos", mas alertou que as campanhas políticas para as eleições municipais, os feriados de novembro e as festividades no final de ano "multiplicaram os casos e mortes" provocados pela covid-19.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.058.226 mortos resultantes de mais de 96,1 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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