Uma família de cinco elementos contou ao El Pais o horror que foi viver com a Covid-19 dentro de um apartamento de apenas duas assoalhadas, e 68 metros quadrados, no México.
"Horrível, horrível, horrível", repete Márcia, relatando que os cinco membros da sua família ficaram infetados com Covid-19 e tiveram de se manter isolados na sua casa de apenas dois quartos, uma casa de banho e uma cozinha.
Além do esforço para tentar sobreviver, com as dores da doença, num espaço tão pequeno, a mulher conta ainda os desafios vividos para, sem sair de casa, conseguirem ter acesso a oxigénio e medicamentos; para conseguirem retirar o corpo da avó da casa; as fraudes que sofreram com compras feitas através da internet; e ainda os abusos por parte de quem achavam que eram seus amigos e vizinhos de confiança.
A família terá ficado infetada após uma saída para ir às compras por parte da mãe, de 61 anos. Esta acabou por infetar a filha de 21 anos. A mãe manteve-se isolada num quarto, enquanto o pai de Márcia e a sua avó partilhavam o outro quarto, e ela e a sua irmã dormiam num colchão na cozinha da casa, onde esta última tinha as aulas à distância.
Apesar de todos os esforços para manter a casa limpa e arejada, a infeção de toda a família era impossível de evitar e assim foi. Durante três semanas, os cinco viveram com o vírus, tendo a avó, de 86 anos, diabética e hipertensa, acabado por morrer.
Márcia recorda os amigos que se recusaram a ajudar, com medo de serem apanhados pela doença, e ainda o drama da avó, que, sem cuidados médicos, decidiu morrer em casa. Esta última decisão, lembra, podia tê-los colocado em maus lençóis, dado que a polícia os informou que teriam de prestar contas ao Ministério Público sobre a morte da mulher.
Hoje, a família conseguiu curar-se do vírus, embora sinta sequelas do mesmo. O seu caso põe, contudo, a descoberto, as dificuldades que as famílias de classe média mexicanas enfrentam, sobretudo numa situação de maior flagelo como o que foi provocado pela pandemia.
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