"O Presidente da República, chefe Supremo das Forças Armadas e ministro da Defesa, Abdelmadjid Tebboune, regressou hoje ao país", indicou a cadeia de televisão pública argelina, adiantando que o chefe de Estado aterrou em Argel às 17:00 locais (16:00 em Lisboa).
Hospitalizado durante dois meses na Alemanha após contrair a covid-19 em Argel, Tebboune, 75 anos, teve de regressar à Alemanha a 10 de janeiro para se submeter a uma cirurgia em Berlim após "complicações" no pé direito. A natureza dessas "complicações" nunca tinha sido clarificada.
Segundo a televisão estatal argelina, um dia antes de regressar, Tebboune agradeceu ao homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier, para "agradecer os cuidados médicos recebidos" na Alemanha.
As prolongadas estadas de Tebboune no exterior, três meses ao todo desde 28 de outubro, quando a Argélia atravessa crises de ordem sanitária, política e socioeconómica, não deixaram de levantar preocupações sobre um possível abandono do cargo.
"Acordem! O Presidente Abdelmadjid Tebboune está ausente há um mês. Desde meados de outubro só passou apenas uma dúzia de dias na Argélia. Nenhum líder, nenhuma instituição está preocupada com esta repetição do humilhante quarto mandato", escreveu o jornalista e analista argelino Abed Charef na rede social Twitter.
Charef referia-se ao quarto mandato de Abdelaziz Bouteflika, quando o ex-Presidente deposto, atingido por um acidente cardiovascular em 2013, ficou desamparado e afásico.
A ausência de Tebboune surgiu num contexto de tensão do regime à medida que se aproxima o segundo aniversário da revolta popular sem precedentes do Hirak, lançada a 22 de fevereiro de 2019 e que levou Bouteflika a renunciar dois meses depois.
Entre as questões prioritárias que aguardam o Presidente argelino, está a nova lei eleitoral, que terá de ser apresentada ao Parlamento tendo em vista as próximas eleições locais e legislativas antecipadas previstas.
No entanto, refere a agência noticiosa France-Presse (AFP), não está posta de parte também a possibilidade de uma remodelação ministerial.
No dia em que partiu pela segunda vez para Berlim, Tebboune expressou publicamente a sua insatisfação com a ação do governo de Abdelaziz Djerad, o que alimentou rumores de uma futura remodelação do gabinete.
O chefe de Estado também tem nas mãos a questão do memorial entre a Argélia e a França. O relatório do historiador francês Benjamin Stora, entregue há quase um mês ao Presidente francês, Emmanuel Macron, ainda não provocou qualquer reação oficial em Argel.
Macron ligou para Tebboune durante a estada do Presidente argelino na Alemanha, tendo sido noticiado os dois chefes de Estado se comprometeram em "trabalhar juntos novamente em questões de interesse comum".
Chegado ao poder a 12 de dezembro de 2019 com o desejo de encarnar "a nova Argélia, Tebboune lidera um país paralisado, com instituições bloqueadas e uma economia sem fôlego.
O maior país do Magrebe está a ficar sem reservas cambiais e dependente das flutuações dos preços no mercado petrolífero.
Por outro lado, o regresso de Tebboune ocorre dez dias antes do segundo aniversário do Hirak, suspenso em março passado devido à crise sanitária provocada pela covid-19.
Muitos opositores e ativistas do Hirak foram presos, julgados e condenados num clima de repressão.
Segundo o Comité Nacional para a Libertação de Prisioneiros (CNLD), uma associação que apoia presos de consciência, dezenas de pessoas estão atualmente presas na Argélia face a acusações ligadas aos protestos do Hirak e às liberdades individuais.
Leia Também: AO MINUTO: Controlo de fronteiras até março; Brasil atrasado na vacinação