Presidente argentino defende a inocência de Lula da Silva

O Presidente argentino voltou hoje a defender o ex-presidente brasileiro Lula da Silva (esquerda), acusando a justiça do Brasil de parcialidade, num momento em que diplomatas dos dois países tentam um novo encontro entre os dois chefes de Estado, de origens ideológicas opostas.

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Lusa
23/02/2021 18:42 ‧ 23/02/2021 por Lusa

Mundo

Alberto Fernández

"No caso Lula, organizaram uma engrenagem da qual participaram procuradores, juízes e meios de comunicação para construírem, no imaginário público do Brasil, a ideia de que Lula era um delinquente", acusou o Presidente Alberto Fernández durante a sua participação, na noite de segunda-feira, já madrugada em Lisboa, numa videoconferência organizada pelo Partido dos Trabalhadores em comemoração dos 41 anos do partido fundado por Lula.

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (extrema-direita), não se encontrou pessoalmente com Fernández, que tomou posse em dezembro d2 2019, contrariando uma tradição diplomática dos dois países, na linha do afastamento ideológico dos dois chefes de Estado.

As diplomacias dos dois países têm negociado um primeiro encontro presencial para o dia 26 de março, quando o bloco económico regional Mercosul completa 30 anos.

A reunião virtual teve como propósito debater o caso Lula sob o título "Lawfare: o caso Lula, a luta pela recuperação dos direitos políticos do Presidente" e o Presidente argentino participou através de uma mensagem gravada.

"Na América Latina, há três casos absolutamente claros de 'Lawfare', esse acordo entre poder e meios de comunicação para instalar a culpa de alguma pessoa onde só há inocência", disse Alberto Fernández, citando os casos de Rafael Correa no Equador, de Cristina Kirchner na Argentina e de Lula no Brasil.

"Lawfare" é o termo usado pela esquerda latino-americana para definir uma guerra judicial, criada pela direita, com o objetivo de intervir na política e destruir adversários.

Sob essa lógica, a esquerda justifica as condenações de Lula e de Rafael Correa, além dos processos contra Cristina Kirchner, que tem invocado a imunidade do cargo para não ser presa.

Apesar das advertências de que, ao defender Lula, o Presidente argentino prejudicaria o esforço da sua própria diplomacia em aproximar-se de Bolsonaro, Alberto Fernández defendeu a inocência de Lula, mas nunca citou Jair Bolsonaro nem foi direto na crítica ao atual Governo do Brasil.

"O processo contra Lula foi pessimamente construído por um juiz que viajou pelo continente a exibir-se como um valente da luta contra a corrupção e que terminou como ministro da Justiça do atual Governo do Brasil", criticou, numa referência a Sérgio Moro, que foi o magistrado que tutelou o caso e depois foi convidado para ministro da Justiça por Bolsonaro, cargo do qual se demitiu posteriormente.

"Da ignomínia do processo contra o Lula, agora já conhecemos como o juiz (Sérgio) Moro manipulava os procuradores e como esses procuradores permitiam isso para garantir que Lula não pudesse ser candidato", acusou Fernández.

O Presidente argentino interpreta as recentes vitórias da esquerda na Argentina em 2019, na Bolívia em 2020 e a possível vitória no Equador no próximo 11 de abril como exemplos de uma reversão da onda de direita que, entre 2016 e 2019, venceu todas as eleições na região.

"Na América Latina, isso tem sido revertido nos últimos anos. Essa mudança começou pela Argentina, continuou pela Bolívia e, seguramente, vai continuar pelo Equador. E tenho plena confiança em que o Brasil também reverterá tudo", indicou, em alusão às próximas eleições no Brasil no ano que vem.

"Sempre confiei no Lula. Por isso, eu o visitei nos seus dias de cativeiro à disposição do juiz Moro. Muitos me criticaram, mas fui com a plena convicção de visitar uma pessoa inocente. E o tempo me deu a razão", afirmou o Presidente argentino.

Porém, foi justamente essa visita a Lula na prisão, em julho de 2019, que levou Jair Bolsonaro a ver o argentino como amigo do seu principal inimigo, Lula.

Além da visita na prisão, Alberto Fernández, no seu discurso de vitória quando ganhou nas urnas em 27 de outubro de 2019, pediu a liberdade de Lula.

Por isso, Bolsonaro nunca cumprimentou Fernández pela vitória nem mesmo foi à sua posse em 10 de dezembro de 2019. Desde então, o Presidente brasileiro adverte que a Argentina, com um Governo socialista, tende a tornar-se nova Venezuela na região.

Somente em 30 de novembro de 2020, através de uma videoconferência, Bolsonaro e Fernández falaram pela primeira vez, apesar de liderarem países que, mutuamente, dependem um do outro e que, juntos, têm sido o eixo da integração regional.

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