Apesar da proibição das concentrações por motivos sanitários, decorreram diversos desfiles após a oração de sexta-feira nos bairros populares de Argel, que se dirigiram para o centro da capital, indicou a agência noticiosa AFP.
Em Argel, os manifestantes eram tão numerosos como no desfile de segunda-feira, quando milhares de pessoas desfilaram por ocasião do segundo aniversário do 'Hirak' [22 de fevereiro de 2019], indicaram testemunhas.
Na quinta-feira, os ativistas apelaram nas redes sociais ao respeito pelo uso de máscara no protesto de hoje, após uma distensão registada no início da semana, uma indicação que não foi cumprida pela totalidade dos manifestantes.
As forças da ordem recorreram a bastões e gás lacrimogéneo numa grande artéria da capital quando os manifestantes forçaram uma barreira policial para se dirigirem ao Grande Poste, o local emblemático das concentrações anti-regime em Argel, de acordo com um vídeo publicado pelo portal de informação na Internet Interlignes.
"Nem islamita nem laico mas hirakista", lia-se numa faixa transportada pela multidão, que ecoava "Um Estado civil e não militar", uma das principais reivindicações do movimento, que exige uma "desmilitarização" do Estado argelino.
"O povo quer a queda do regime", "Argélia livre e democráticas", ou "Silmiya, silmiya (pacífico)", foram outras frases do 'Hirak' que regressaram às ruas, numa referência à natureza não violenta dos protestos.
A polícia deslocou carrinhas ao início da manhã para as principais praças do centro da cidade, e forma instalados postos de controlo em diversos eixos rodoviários que conduzem à capital.
Os protestos também ocorrerem em diversas regiões da província, com destaque para Bejaia e Tizi Ouzou, na Cabília (nordeste), em Bordj Bou Arreridj (leste) e em Oran (noroeste), onde foi detido o universitário e ativista dos direitos humanos Kadour Chouicha, segundo o Comité Nacional para a Libertação dos Detidos (CNLD), uma associação de apoio.
O CNLD também se referiu a outras detenções em Tlemcen (oeste), Annaba e Skikda (leste).
"O 'Hirak' está definitivamente de regresso. O povo está na rua. Agora é necessária uma proposta política. É necessário estruturá-la, dar-lhe voz, um sentido, um programa, uma linha condutora", assinalou um ativista argelino na rede social Twitter.
Esta semana, a Amnistia Internacional (AI) denunciou uma "estratégia deliberada das autoridades argelinas destinada a esmagar a dissidência".
"Uma estratégia que contradiz as suas promessas em matéria de respeito pelos direitos humanos", segundo Amna Guellali, diretora-adjunta na AI do programa Médio Oriente e África do Norte.