Bortnikov faz parte de um grupo de sete altos funcionários russos visados pelas sanções norte-americanas que preveem, em particular, o congelamento dos bens nos Estados Unidos, país cujos serviços secretos responsabilizam Moscovo pela perseguição a Navalny.
"O uso de armas químicas pelo Kremlin para silenciar um opositor político e intimidar outros demonstra um flagrante desrespeito pelos padrões internacionais", afirmou a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen.
As sanções são as primeiras impostas pelo novo Presidente dos Estados Unidos Joe Biden, que, desde que assumiu a Casa Branca, a 20 de janeiro passado, tem conferido um tom mais firme em relação a Moscovo do que o seu antecessor republicano, Donald Trump.
As sanções, em particular contra Bortnikov, foram tomadas "em concertação estreita com os parceiros da UE" (União Europeia) e constituem "um sinal claro" enviado a Moscovo, indicou um responsável norte-americano, citado pela agência noticiosa France-Presse (AFP) e que solicitou anonimato.
A fonte acrescentou que os Estados Unidos não estão à procura de aumentar as tensões, destacando que Washington não hesitará em mostrar firmeza sempre que considerar necessário.
"A comunidade dos serviços secretos tem um alto grau de confiança no facto de que vários funcionários dos serviços de segurança russos usaram um agente nervoso conhecido como Novichok para envenenar o líder da oposição russa, Alexei Navalny, a 20 de agosto de 2020", disse a porta-voz da Casa Branca, Jen Paski.
"Reiteramos o nosso apelo à libertação imediata e incondicional de Navalny", acrescentou.
Poucas horas antes do anúncio da decisão norte-americana, que se segue uma decisão semelhante da UE, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, garantiu que Moscovo responderia às sanções ocidentais.
"Ninguém cancelou as regras da diplomacia e uma dessas regras é o princípio da reciprocidade", advertiu.
O opositor, de 44 anos, tem sido alvo de vários processos judiciais desde que regressou à Rússia, após cinco meses de convalescença na Alemanha, onde recuperou de um envenenamento.
Navalny chegou domingo a uma colónia penal situada 200 quilómetros a leste de Moscovo para cumprir uma sentença de prisão de dois anos e meio, punição que o próprio opositor e os seus apoiantes consideram "politicamente motivada".
Legado dos campos de trabalho da era soviética, as colónias penitenciárias russas têm uma péssima reputação, entre acusações de maus-tratos, falta de condições higiénicas ou mesmo tortura generalizada.
A maioria das penas de prisão na Rússia é cumprida nesses campos, que, às vezes, ficam longe de zonas residenciais e onde o trabalho dos presos, geralmente em oficinas de alfaiataria ou de fabrico de móveis, costuma ser obrigatório.
Em janeiro, a justiça russa transformou em prisão a pena suspensa a que Navalny fora condenado em 2014.
A prisão do opositor russo, a 17 de janeiro deste ano, tem gerado múltiplos protestos, contra quais as autoridades responderam com mais de 11.000 detenções, geralmente seguidas de multas ou curtas penas de prisão.
Na segunda-feira, vários especialistas das Nações Unidas pediram uma investigação internacional sobre o envenenamento do opositor.
Também na segunda-feira, em Bruxelas, os Estados-membros da UE formalizaram sanções contra quatro altos funcionários russos envolvidos no processo judicial contra Navalny e na repressão contra os seus apoiantes.
Segundo duas fontes europeias, as personalidades sancionadas são Alexandre Kalashnikov, diretor dos serviços penitenciários, Alexandre Bastrykine, chefe do Comité de Investigação da Rússia, Igor Krasnov, procurador-geral, e Viktor Zolotov, chefe da Guarda Nacional Russa.
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