Mais de dois meses antes da Organização Mundial de Saúde (OMS) declarar a pandemia, a capital mundial do jogo já tinha fechado casinos e determinado fortes restrições fronteiriças, quando 114 países acumulavam um número superior a quatro mil mortos e 100 mil infetados. Um ano depois, o total de mortos cresceu para mais de 2,5 milhões e o de infetados para 115 milhões.
Nesse período, Macau impôs uma das mais longas quarentenas do mundo, passando de 14 para 21 dias. O território continua a negar a entrada a todos os que não são residentes, à exceção daqueles que tenham passaporte chinês. E em março do ano passado, Macau detetava já quase metade dos casos através da medição da temperatura corporal nos postos fronteiriços.
No total, as autoridades registaram 48 casos, não contabilizam qualquer morte, surto local ou infeções entre profissionais de saúde. E há quase um ano que não é detetado qualquer contágio local em Macau, apenas casos importados.
As autoridades daquele que é um dos territórios mais seguros do mundo têm-se desdobrado em apelos à vacinação, de forma a ser criada uma barreira imunológica, mas a resposta da população tem-se traduzido numa tímida mobilização dos residentes.
Na quarta-feira, Macau já recebera praticamente as vacinas necessárias para inocular a primeira dose em toda a população, cerca de 683 mil. Mas, até agora, menos de 50 mil residentes tinham pedido para serem vacinados.
O combate à pandemia teve impacto imediato naquele que é a capital mundial do jogo e o único local na China onde o jogo em casino é legal.
Os casinos chegaram mesmo a fechar 15 dias e mergulharam, em 2020, numa crise sem precedentes, registando prejuízos superiores a dois mil milhões de euros.
As restrições fronteiriças, a queda abrupta de turistas e o pior desempenho de sempre daquele que é motor da economia da capital mundial do jogo contagiou negativamente muitos outros negócios, num ano em que Macau perdeu quase 19 mil trabalhadores não-residentes, ou seja, aqueles com permissão de residência enquanto possuírem visto de trabalho.
A economia da capital mundial do jogo foi fortemente afetada e, por arrasto, o orçamento do Governo, já que em 2020 as autoridades arrecadaram apenas 29,8 mil milhões de patacas (3,1 mil milhões de euros) em impostos sobre o jogo, menos 73,6% em relação ao ano anterior.
Um contratempo para o Governo de Macau, mas longe de ser fatal para as finanças de um território que em 2020 registou um rendimento recorde da aplicação de fundos da reserva financeira, superior a 31,06 mil milhões de patacas (3,2 mil milhões de euros).
O total da reserva financeira supera agora os 616 mil milhões de patacas (64 mil milhões de euros). E o facto de Macau não possuir quaisquer dívidas oferece algum conforto financeiro ao território, apesar da recessão, que vinha já de 2019.
Só entre 01 de fevereiro e 24 de novembro de 2020, os planos de apoio às pequenas e médias empresas conseguiram injetar nas PME mais de oito mil milhões de patacas (830 milhões de euros).
E durante todo o ano de 2020, cada um dos residentes recebeu apoios financeiros extraordinários que podiam ascender às 23 mil patacas (2.390 euros). Só até novembro de 2020, as contas do Governo de Macau indicavam que 4,75 mil milhões de patacas (490 milhões de euros) tinham sido injetados no mercado de consumo a partir das oito mil patacas (830 euros) dadas aos residentes através de um cartão eletrónico. Destes quase cinco mil milhões de patacas, mais de três mil milhões (311 milhões de euros) foram diretos para as PME, mais de 63%, segundo as autoridades.
Macau está longe dos dias em que foi obrigado a encerrar escolas, estabelecimentos de diversão noturna e espaços desportivos, e do período inicial em que remeteu os funcionários públicos para o teletrabalho e encaminhou milhares de residentes que entraram no território para hotéis, para cumprirem quarentena.
Contudo, a economia continua a evidenciar sérias dificuldades para recuperar, num momento em que alguns deputados da Assembleia Legislativa (AL) começam a fazer apelos para que o Governo avance com uma nova ronda de apoios para a população e pequenas e médias empresas, quando o desemprego se situa nos 2,7% e a economia parece encaminhar-se para um ciclo de deflação.
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