Guiné Equatorial: Reação prova desconsideração por tragédias em África

A socióloga e investigadora Ana Lúcia Sá disse hoje que a reação da comunidade internacional e da CPLP à catástrofe na Guiné Equatorial é mais um exemplo de desconsideração e de invisibilização das tragédias em África.

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Lusa
10/03/2021 07:52 ‧ 10/03/2021 por Lusa

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"É uma desconsideração total por aquilo que se passa em vários locais do mundo. Este é mais um exemplo de que muitas tragédias que acontecem no continente africano continuam a ser completamente invisibilizadas", disse Ana Lúcia Sá.

A investigadora do ISCTE-IUL (CEI-IUL), especializada em regimes autoritários em África, nomeadamente a Guiné Equatorial, falava à agência Lusa na sequência das explosões de domingo naquele país da África Central, que causaram mais de 100 mortos e para cima de 600 feridos.

O Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, lançou um apelo para a ajuda de emergência da comunidade internacional, mas a investigadora considera que a resposta não tem sido proporcional ao que a dimensão da tragédia exigiria.

"Há alguma expressão de solidariedade expressa verbalmente, mas ainda não vi qualquer ação prática", disse, assinalando que se tivesse sido num país europeu teria sido completamente diferente.

Portugal e os parceiros da Guiné Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), espaço a que o país aderiu em 2014, manifestaram solidariedade, estimando o Governo português que qualquer tipo de ajuda terá de ser "equacionado" no quadro da União Europeia e das Nações Unidas.

Espanha, Estados Unidos e China foram os únicos países a enviar ajuda ao país até ao momento.

Para Ana Lúcia Sá, esta é mesmo uma questão de "negligência para com o valor da vida humana de cidadãos que já sofrem uma ditadura".

"A comunidade internacional e a CPLP não têm a mínima complacência para com os cidadãos, mas para com o regime [de Teodoro Obiang] sim. Penso que passa muito por aí", disse.

Desde a sua independência de Espanha em 1968, a Guiné Equatorial, um dos principais produtores de petróleo de África, é considerado pelos grupos de direitos humanos como um dos países mais repressivos do mundo, devido a acusações de detenções e torturas de dissidentes e alegações de fraude eleitoral, bem como de corrupção e desvio de fundos públicos pelas elites política e governamental.

O chefe de Estado de 78 anos, Teodoro Obiang, governa o país com mão de ferro desde 1979, quando derrubou o seu tio Francisco Macias num golpe de Estado, e é o Presidente com o mandato mais longo do mundo.

A Guiné Equatorial foi admitida na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 2014, num processo controverso e mediante o comprimento de um roteiro que previa a abolição da pena de morte, a adoção do português como língua oficial entre outras condições.

Leia Também: Guiné Equatorial: Catástrofe humanitária revela "grande fragilidade"

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