"Mais uma vez e com tanta tristeza, sinto a urgência de falar da situação dramática em Myanmar, onde tantas pessoas, especialmente jovens, estão a perder as suas vidas para oferecer esperança ao seu país", declarou o pontífice, no final da tradicional audiência geral de quarta-feira.
"Também eu me ajoelho nas ruas de Myanmar e digo que a violência tem de acabar. Também eu estendo os braços e digo que o diálogo deve prevalecer. O sangue não resolve nada. Que prevaleça o diálogo", prosseguiu Francisco, que já abordou várias vezes a situação vivida em Myanmar desde o início dos protestos contra o golpe militar ocorrido em 01 de fevereiro, que envolveu a detenção da chefe do governo civil birmanês, Aung San Suu Kyi, entre outras várias figuras políticas.
No início de março, as imagens de uma freira católica, identificada como Ana Rosa Nu Tawng, de braços estendidos e ajoelhada no meio de uma estrada em frente às forças de segurança birmanesas a implorar para que estas não disparassem contra um grupo de manifestantes percorreram o mundo.
As imagens foram registadas na cidade de Mytkyna, no norte do país, a 28 de fevereiro.
"Não disparem sobre as crianças", implorou a freira católica naquela estrada em Myitkyina, localidade que tem sido cenário de manifestações quase diárias desde o golpe militar.
Nesse mesmo dia, três manifestantes pró-democracia seriam mortos.
Na semana passada, o relator especial da ONU para os Direitos Humanos em Myanmar, Thomas Andrews, afirmou que a junta militar birmanesa estaria a cometer "provavelmente crimes contra a Humanidade" desde que assumiu o poder no início de fevereiro.
"Há cada vez mais provas" de que o exército e os seus principais líderes "estão a cometer provavelmente crimes contra a Humanidade, incluindo assassínios, desaparecimentos forçados, perseguições, tortura e prisões em violação das regras fundamentais do Direito Internacional", declarou então o perito independente.
No dia 01 de fevereiro, os generais birmaneses tomaram o poder alegando fraude eleitoral nas legislativas do passado mês de novembro e contestando a vitória da líder da Liga Nacional para a Democracia, Aung San Suu Kyi.
Desde o golpe de Estado repetem-se as manifestações de protesto marcadas pela violência policial e do exército.
De acordo com a Associação de Ajuda aos Prisioneiros Políticos, a repressão policial e militar já fez mais de 180 mortos civis desde o início de fevereiro.
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