"Estou aqui para dizer-vos que sou candidato a Presidente da República de Cabo Verde nas eleições de 17 de outubro", anunciou José Maria Neves, numa conferência de imprensa realizada na Praia, e transmitida através das redes sociais para a diáspora, marcando o regresso à vida política ativa do também ex-presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV).
Sempre com a tónica na importância de definir políticas próprias e dar atenção à diáspora -- Cabo Verde conta com cerca de 550 mil habitantes no arquipélago e estima-se mais de um milhão de pessoas emigradas -, José Maria Neves afirmou que pretende ser um Presidente de "consensos", prometendo promover a despartidarização da Administração Pública, num país que há praticamente 30 anos está bipolarizado eleitoralmente entre PAICV (atualmente na oposição) e o Movimento para a Democracia (MpD, no poder desde 2016).
Contudo, o ex-primeiro-ministro (2001 a 2016) traçou como prioridade a recuperação do país da crise económica, sanitária e social em que está mergulhado devido à pandemia de covid-19.
"Nestes tempos pandémicos, em que somos mais uma vez postos à prova, temos de continuar a ser fortes e a ter confiança no país e nas suas instituições. Temos pela frente tempos inéditos e complexos", apelou.
"Se eleito Presidente, serei o primeiro embaixador da República, trabalharei em estreita cooperação estratégica com o Governo para mobilizar a nação, os cabo-verdianos, nas ilhas e na diáspora, e parcerias internacionais públicas e privadas, para continuarmos a combater o vírus, ganhar a imunidade e garantir os investimentos necessários para levantar o país no pós-pandemia. A reconstrução do país será a minha prioridade", garantiu.
Este contexto de profunda crise, afirmou, deve levar ainda a um "reforço da confiança mútua entre os partidos políticos, ao diálogo, à partilha e à busca conjunta de soluções" na sociedade cabo-verdiana.
"Todos somos poucos para a grandeza da obra que nos espera", justificou, acrescentando que Cabo Verde "precisa de uma liderança forte" para mobilizar a sociedade e para a "reconstrução do país".
José Maria Neves completa este mês 61 anos e admitiu que na sua experiência só lhe falta mesmo ser Presidente da República. Já foi dirigente partidário -- presidente do PAICV -, deputado nacional, presidente de câmara, ministro, primeiro-ministro e, atualmente, é professor universitário na Praia.
"Tenho jogado o jogo democrático em várias posições e tenho feito da política um espaço de aprendizagem", atirou, admitindo que conhece hoje "melhor o país" e que está mais preparado para "continuar a servir" Cabo Verde.
"Pretendo ser não apenas um bom árbitro - conheço bem as regras do jogo -, mas também um dinamizador de novos processos políticos, abrindo espaços de participação a todos, uma instância moral, um traço de união, um provedor das liberdades, da democracia e do Estado de Direito, um promotor do meu país no mundo", disse.
Insistiu que em Cabo Verde "há ainda muita crispação política" e "muita partidarização do espaço público", apontando a necessidade de "reforçar a confiança mútua entre as forças políticas e entre o Governo e a oposição democrática".
"O país precisa de um líder, a República precisa de um Presidente disponível para ser o fermento desse novo momento, de um Presidente que une, que aconselha, que adverte, que sugere, que cuida", assumiu.
Apesar da militância de cerca de 40 anos no PAICV, José Maria Neves recordou que constitucionalmente a candidatura a Presidente da República é "suprapartidária" e numa altura de pré-campanha para as eleições legislativas de 18 de abril disse que é preciso "dar tempo aos partidos".
"Depois das legislativas falaremos com todos os partidos políticos, necessariamente e indubitavelmente com o PAICV, e com os outros partidos políticos. Espero contar com o apoio do PAICV e de outros partidos e forças políticas presentes agora nas disputas eleitorais", afirmou.
Ainda assim, num país que habitualmente divide a generalidade dos votos entre PAICV e MpD, e quando sabe que terá pela frente na votação de outubro o antigo primeiro-ministro Carlos Veiga (MpD, de 1991 a 2000), José Maria Neves rejeitou que se façam ligações entre os resultados das legislativas para as presidenciais.
"Devemos fazer um esforço para que as eleições de outubro não sejam uma segunda edição das eleições de abril. E, portanto, independentemente dos resultados das eleições legislativas, o Presidente da República eleito em outubro trabalhará com o Governo legitimamente eleito em abril e trabalhará com todos os partidos políticos", afirmou.
Cabo Verde realiza eleições presidenciais em 17 de outubro de 2021, às quais já não concorre Jorge Carlos Fonseca, que cumpre o segundo e último mandato como Presidente da República.
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