"O que se passou é algo que nunca tínhamos visto num campo de refugiados, foi 'massivo'", disse Boris Cheshirkov, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) que, com outras organizações humanitárias, presta assistência às cerca de 900 mil pessoas que fugiram das perseguições e dos ataques do Exército e das milícias armadas da Birmânia.
O incêndio começou na segunda-feira à tarde e afetou quatro setores da imensa área onde se encontram instalados os campos da minoria muçulmana rohingya perto da localidade de Cox's Bazar no sudeste do Bangladesh.
Nas zonas danificadas pelas chamas vivem 88 mil pessoas, das quais 45 mil terão perdido todos os pertences que tinham.
Até ao momento ainda não foram apuradas as causas do incêndio nem o balanço final de mortos e feridos.
Mais de mil voluntários da organização Crescente Vermelho estiveram envolvidos no combate às chamas, assim como os 600 residentes do campo que foram treinados para operações de busca e salvamento, no quadro de um programa de preparação contra os efeitos dos ciclones que se fazem sentir na região.
"As nossas equipas de primeira linha informaram das cenas horríveis de destruição e desespero", comentou o porta-voz do Programa Alimentar Mundial (PAM), Thomson Piri.
Em janeiro, um incêndio num outro campo de refugiados destruiu 3.500 instalações precárias feitas de bambu e plástico onde vivem os 'rohingya' e poucos dias depois a Unicef -- Fundo das Nações Unidas para a Infância denunciou um incêndio premeditado que destruiu quatro centros educativos.
No Bangladesh mantém-se a polémica sobre as intenções do Governo, que pretende instalar cerca de 10 mil rohingya na remota ilha de Bhasan Char, para descongestionar os campos, um processo que começou no passado mês de dezembro com o envio do primeiro grupo de 3.500 pessoas.
Neste momento encontram-se na ilha 12.400 rohingya.
Mais de 738.000 rohingya refugiaram-se no sudeste do Bangladesh após as brutais perseguições por parte do Exército da Birmânia contra a minoria étnica muçulmana.
A Organização das Nações Unidas (ONU) classificou as campanhas de violência contra os 'rohingya' como uma ação de limpeza étnica e possível genocídio que ainda está a ser investigado por instâncias internacionais.
Os ataques do Exército birmanês contra o povo rohingya ocorreram quando a líder da Liga Nacional para a Democracia, Aung San Suu Kyi, ocupava "de facto" o cargo de chefe do Governo da Birmânia.
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