"A ameaça da Arábia Saudita contra mim foi descarada, ocorreu num encontro diplomático de alto nível e foi divulgada, confirmada pela ONU", indicou na rede social Twitter a francesa, depois do responsável saudita em questão ter desmentido os factos na quinta-feira.
"As táticas de intimidação não deveriam ser possíveis em nenhum lado. Não têm espaço na ONU", adiantou Agnes Callamard.
Esta semana o diário The Guardian noticiou que um alto responsável saudita tinha ameaçado por duas vezes, durante uma reunião com responsáveis da ONU em Genebra em janeiro de 2020, "tratar" de Callamard se as Nações Unidas não controlassem a sua energia.
Sem nomear o responsável saudita, a relatora especial da ONU sobre as execuções extrajudiciais, sumárias e arbitrárias declarou ao jornal britânico que o comentário foi entendido pelos seus colegas sediados em Genebra como uma "ameaça de morte".
Rupert Colville, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, com sede em Genebra, confirmou que "os pormenores do artigo do Guardian sobre a ameaça a Agnes Callamard estavam corretos".
Mas o chefe da comissão dos direitos humanos da Arábia Saudita, Awwad Alawwad, desmentiu na quinta-feira ter ameaçado de morte a especialista.
"Embora não me consiga lembrar das conversas exatas, nunca quis prejudicar alguém nomeado pela ONU, ou quem quer que seja", escreveu no Twitter.
"Rejeito fortemente essa sugestão", adianta o antigo ministro saudita, dizendo-se "desanimado com o facto de que tudo o que disse possa ser interpretado como uma ameaça".
Callamard afirmou hoje que as ameaças que sofreu acontecem "infelizmente com frequência" na ONU.
"Os Estados devem entender que comportarem-se como bandidos em Nova Iorque e Genebra não é mais aceitável que noutras capitais ou nas suas próprias cidades. Essa exigência é essencial porque enfrentamos um mundo de tensão crescente, que lembra a época da Guerra Fria", concluiu.
Jamal Khashoggi, crítico do poder saudita, foi assassinado em 2018 no consulado do seu país em Istambul por um comando vindo de Riade.
Os Estados Unidos acusaram no final de fevereiro o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, de ter "validado" o assassínio de Khashoggi.
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