Moçambique: Famílias angustiadas de olho nos navios que chegam a Pemba
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
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Mundo Moçambique/Ataques
"Ajudem-me a encontrar o meu filho", diz, em lágrimas, José Abebe, que não sabe se ele sobreviveu ao ataque a Palma, norte de Moçambique, na quarta-feira, e hoje de manhã está no porto de Pemba na esperança de revê-lo. Na mão, mantém uma foto para mostrar a quem passa.
José está entre as dezenas de familiares que aguardam pela chegada do navio Sea Star 1, com que a petrolífera Total retirou 1.300 pessoas (e não 1.800, como inicialmente anunciado) do recinto do projeto de gás na península de Afungi, no sábado.
Conta que é "deslocado". A família tinha já fugido aos ataques armados de Cabo Delgado, quando os grupos rebeldes atacaram Macomia, em maio de 2020, tomando a sede de distrito por alguns dias.
"É a segunda guerra que o meu filho enfrenta. Travou em Macomia, andou cinco dias no mato. Salvou-se, foi solicitado no serviço dele e desta vez também é a coisa [a violência] que o encontra", diz, emocionado. "Peço a vossa ajuda", repete, com a foto na mão.
O filho trabalha no restaurante do hotel Amarula, em Palma. O espaço deu guarida a cerca de 200 pessoas de diferentes nacionalidades que trabalhavam em empresas ligadas aos projetos de gás e esteve na mira dos insurgentes armados que atacaram Palma. Pelo menos sete morreram durante umas das operações de resgate.
Carlitos Adamo aguarda pelo primo, bancário em Palma, numa das instituições que vários testemunhos dão como destruídas pelos insurgentes.
"Tenho esperança de o ver nesse grupo", refere aos jornalistas que se juntam à entrada do porto.
Patrício Amade vive em Palma, onde tem toda a família, e estava em Pemba a tratar do funeral de um familiar quando o ataque aconteceu. Desde então ficou separado: "Vim aqui porque quero localizar a minha família. Desde quarta-feira que não tenho contacto", sublinha, mantendo a esperança.
Os familiares não vieram no navio que chegou a Pemba perto das 10:00 (09:00 em Lisboa), onde estavam sobretudo trabalhadores de Afungi e outros funcionários de empresas internacionais ligadas ao projeto - moçambicanos e de várias outras nacionalidades, incluindo portugueses.
Mas há outro navio a caminho, onde há mais população e funcionários estatais, relata quem se junta no porto, de olho no relógio e prevendo voltar daí a umas horas para passar a tarde a vigiar o horizonte.
Todas as pessoas transportadas no navio que partiu no sábado à tarde de Afungi e chegou hoje de manhã a Pemba estavam ainda ao início da tarde a ser transportadas a partir do porto em viaturas, sob escolta policial, para pavilhões nas imediações da capital provincial, para serem registados e acolhidos.
Fonte da petrolífera Total disse à Lusa que a operação está a decorrer sem sobressaltos.
O aeroporto de Pemba serve depois de ponto de saída para todas as pessoas viajarem até ao destino.
Todo o movimento, em todas as zonas por onde circulam as pessoas resgatadas pelo navio que chegou hoje de manhã a Pemba, decorre sob fortes medidas de segurança e as áreas estão vedadas aos jornalistas pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS).
Algumas pessoas abordadas pela Lusa fora das zonas vedadas recusaram-se a prestar informações.
A vila sede de distrito que acolhe os projetos de gás do norte de Moçambique foi atacada na quarta-feira por grupos insurgentes que há três anos e meio aterrorizam a região.
O Ministério da Defesa de Moçambique marcou hoje para as 19:00 (18:00 em Lisboa) uma conferência de imprensa sobre a situação em Palma.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Algumas das incursões foram reivindicadas pelo Estado Islâmico (EI) entre junho de 2019 e novembro de 2020, mas a origem dos ataques continua sob debate.
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