Desde 24 de março, quando se registou um ataque na vila de Palma, em Cabo Delgado, "quase 12.800 pessoas, das quais 43% são crianças, chegaram aos distritos de Nangade, Mueda, Montepuez e Pemba" e "espera-se que muitas mais pessoas ainda estejam em movimento, à procura de segurança e assistência", disse hoje Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, numa conferência de imprensa em Nova Iorque.
O número representa uma subida desde terça-feira, quando a ONU contava cerca de 11 mil pessoas fugidas de Palma.
A organização está a tentar apoiar a população de diversas formas e, desde o início do ano, a assistência humanitária terá chegado a cerca de 500 mil pessoas na província de Cabo Delgado.
Stéphane Dujarric acrescentou ainda que a ONU e parceiros internacionais estão "a seguir de perto e com profunda preocupação" novos relatos de violência contra civis, "incluindo alegadas decapitações e relatos não verificados de uso de crianças-soldado".
O porta-voz de António Guterres argumentou que "é extremamente difícil verificar informações sobre estes incidentes".
A preocupação da ONU é sobre a situação "dos civis que fugiram da violência e daqueles que permanecem em Palma", segundo o porta-voz.
Numa carta assinada por António Guterres aos eurodeputados do PS Carlos Zorrinho e Isabel Santos, o secretário-geral da ONU mostrou-se profundamente preocupado "com a possibilidade de grupos extremistas [estarem] a atuar em território moçambicano e se estarem a tornar numa grave ameaça regional".
O secretário-geral diz que a equipa da ONU em Moçambique está a trabalhar com o Governo local para "ajudar a abordar as causas profundas da violência e responder às necessidades humanitárias imediatas", realçando também que o "plano de resposta humanitário requer urgentemente 254,4 milhões de dólares para poder atender a 1,1 milhões de pessoas".
A violência desencadeada há mais de três anos na província de Cabo Delgado ganhou uma nova escalada há cerca de duas semanas, quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de Palma, que está a cerca de seis quilómetros dos multimilionários projetos de gás natural.
Os ataques provocaram dezenas de mortos e obrigaram à fuga de milhares de residentes de Palma, agravando uma crise humanitária que atinge cerca de 700 mil pessoas na província, desde o início do conflito, de acordo com dados das Nações Unidas.
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