"Todos os parceiros disseram hoje que precisam que o Governo diga com detalhe o que precisa. Não basta dizer de forma geral que precisa de assistência. É preciso saber o quê e quanto é preciso para saber que parceiro fornece o quê", afirmou Roy Trivedy.
"Sem definir o que é preciso é difícil conseguir mobilizar o apoio necessário", afirmou.
Roy Trivedy falava à Lusa depois de uma primeira reunião alargada do Governo com parceiros internacionais, incluindo agências das Nações Unidas, embaixadores de vários países, organizações não-governamentais e outras entidades.
O responsável das Nações Unidas disse que para que a mobilização tenha ainda mais êxito é "crucial que os líderes do país concordem no que é preciso", já que momentos de desastres como este podem definir a direção do país.
"Discordâncias e politização afetam o processo. É crucial que todos os partidos, todos os líderes trabalhem em conjunto, cheguem e acordo e vejam o que é preciso. Estas situações ou fazem ou destroem as nações", considerou.
"Se todos tiverem unidos no que é necessário, isso fortalece a nação. Se as pessoas puxarem em diferentes direções, isso cria fragmentação", sustentou.
O encontro de hoje ocorreu depois do Governo ter declarado na quinta-feira a situação de calamidade devido às cheias que causaram 42 mortos, mais de 14 mil refugiados e danos significativos de casos, empresas e infraestruturas.
Na reunião de quinta-feira do Conselho de Ministros o Governo aprovou ainda mobilizar a comunidade internacional para apoiar Timor-Leste na resposta aos maiores desastres naturais de que há memória no país.
O ministro da Presidência do Conselho de Ministros, Fidelis Magalhães, disse que no que toca aos apoios internacionais, "depende de cada país", mas que abrange quer emergência imediata, quer apoios na reconstrução.
"Apoio técnico, helicópteros para levar bens para os municípios, recursos, dinheiro ou colaborar com Timor-Leste na reconstrução de forma resiliente para evitar danos destes no futuro", afirmou.
Durante a reunião, o secretário de Estado da Proteção Civil, José Joaquim, fez uma apresentação do que tem sido feito desde domingo, destacando o facto de que há já pessoas em mais de 40 locais de acolhimento temporário em Díli.
Estão igualmente a ser identificadas populações que necessitam de apoio, fora dos centros, bem como a ser feitas as avaliações dos danos e necessidades fora de Díli, onde a informação continua a ser muito escassa.
A previsão é que até ao fim de semana o Governo tenha já concluído um relatório detalhado do que é necessário em termos de apoio internacional, a ser depois discutido num encontro na próxima semana dos parceiros internacionais com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Ministério das Finanças.
Para já tudo indica que não haverá um apelo internacional alargado de assistência, devendo os vários parceiros já ativos em Timor-Leste responder diretamente aos pedidos que venham a ser formulados.
Trivedy antecipa que os apoios possam incluir assistência militar, especialmente de países como a Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos, para apoio a populações deslocadas e para a reconstrução.
"Em algumas das pequenas comunidades é difícil de chegar com as estradas como estão e é necessário apoio aéreo, com o uso de helicópteros. Há já vários parceiros prontos a dar apoio logístico", considerou.
Um dos aspetos cruciais é reforçar a coordenação e a resposta nos atuais acampamentos de deslocados, onde se antecipa que as pessoas terão que ficar durante algum tempo e não é suficiente a atual mobilização de apoios e de solidariedade.
"Não podemos continuar a responder como estamos. Precisamos de saber o que vai ser necessário: tendas, comida, etc, e trabalhar para esses objetivos. E os dados que temos são bons, mas são apenas parciais", referiu.
No intuito de definir melhor o que fazer foram já criados grupos de trabalho e avaliação em setores tão diversos como acolhimento de emergência, água e saneamento e higiene, educação segurança alimentar e nutrição, saúde, logísticas de emergência, recuperação e educação.
As agências da ONU em Timor-Leste estão já a mobilizar um primeiro pacote de apoios, podendo reunir "entre um e 1,5 milhões de dólares", sendo que já há alguma capacidade no terreno planeada em setembro e outubro do ano passado de resposta a possíveis impactos ambientais no país.
Depois será necessário fazer uma "avaliação das necessidades pós-desastre" (conhecida com a sigla em inglês PDNA), que normalmente é feito por especialistas da União Europeia, Banco Mundial e PNUD.
Roy Trivedy sublinha que apesar de alguma normalidade poder começar a regressar "num período entre seis e 12 semanas", isso "não significa que os problemas estão resolvidos" e que o problema seguinte são os riscos para a saúde.
"Em situações de cheias, começamos a ver a partir da quarta ou quinta semana doenças como a malária, a dengue, diarreia e doenças de pele. A resposta da saúde é essencial, mas recordemos que isso está a decorrer num contexto de pandemia, e muitos dos locais de acolhimento não têm sequer facilidades de limpeza", frisou.
"É normal nestas situações, se não se atuar, que possam ver um aumento de óbitos de menores de cinco anos e de pessoas já doentes", disse.
Igualmente crucial é completar a avaliação, mais demorada, mas já em curso, do impacto das cheias nas várias zonas de produção do país, para avaliar o impacto que as cheias tiveram no ciclo de produção e na segurança alimentar das populações.
"A normalidade começa a voltar depois de dois meses. Mas recuperar disto vai demorar no mínimo entre seis e nove meses", afirmou.
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