"Há uma campanha eleitoral que começa na Alemanha (tendo em vista as eleições legislativas de setembro). Isso também explica que haja muita agitação. Acredito que seja um golpe de comunicação, o que lamento", declarou Clément Beaune num programa "Le Grand Jury" dos meios RTL/Le Figaro/LCI.
"Mandar sinais [..] que dão a impressão de que há doses no frigorífico e que não são usadas, tudo isso não é responsável e não é muito sério", acrescentou.
Na quinta-feira, investigadores russos anunciaram que a Rússia começou "discussões" com representantes do Governo alemão para a venda da vacina Sputnik V contra a doença covid-19.
Numa mensagem na rede social Twitter, os investigadores e autores da vacina adiantaram que o Fundo Soberano da Rússia (RDIF), que financiou o desenvolvimento do fármaco, deu início às negociações com Berlim para "um contrato de aquisição antecipado" da Sputnik V.
A agência noticiosa France-Presse (AFP) observa que as negociações de Berlim com Moscovo estão a decorrer sem esperar "luz verde" da União Europeia (UE) e apesar das reservas que a vacina russa continua a suscitar na Europa.
Horas antes das declarações dos investigadores russos, o ministro alemão da Saúde, Jens Spahn, anunciou a intenção de dialogar com as autoridades russas sobre o assunto.
Spahn justificou a decisão de a Alemanha avançar sozinha devido à recusa da Comissão Europeia em negociar em nome dos 27 a compra da Sputnik V, ao contrário do que fez com outras vacinas contra a doença covid-19.
"Expliquei, em nome da Alemanha, ao Conselho de Ministros da Saúde da UE que discutiríamos bilateralmente com a Rússia, antes de mais nada, para saber quando e que quantidades poderiam ser entregues", indicou Spahn à rádio pública regional WDR.
Recentemente, também o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, criticou a Rússia por fazer da vacina uma "ferramenta de propaganda" no mundo.
Por seu lado, o comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, conhecido como o "Senhor Vacina", foi muito reservado sobre a utilidade para a UE, do ponto de vista industrial, recorrer a vacinas chinesas ou russas, que não seriam produzidas e entregues com a rapidez necessária.
"Será que eles nos vão ajudar a atingir a nossa meta de imunização da [população] até ao verão de 2021? Receio que a resposta seja não", afirmou Breton.
Segundo as autoridades alemãs, qualquer entrega da Sputnik V, porém, continua sujeita à "luz verde" da Agência Europeia de Medicamentos.
Leia Também: França. Vinicultores acendem milhares de velas para combater geadas