ONG pedem reunião com Draghi sobre como evitar naufrágios no Mediterrâneo
As organizações não governamentais (ONG) que trabalham no resgate de migrantes no Mediterrâneo Central solicitaram, numa carta aberta, uma reunião urgente com o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, para discutir como evitar os frequentes naufrágios na região.
© Christopher Furlong/Getty Images
Mundo Migrações
"Depois da tragédia ocorrida na última quinta-feira no Mediterrâneo, acreditamos que é essencial pedir-vos uma reunião urgente. Cada vez que um naufrágio se repete, esperamos que seja o último. Mesmo a tragédia ocorrida nestes últimos dias poderia muito provavelmente ter sido evitada", referem as organizações na carta aberta.
O documento foi assinado pelas organizações Open Arms, SOS Mediterranée, Alarm Phone, Emergency, Médicos sem Fronteiras, Mediterranea, ResQ-People e Sea Watch.
Na última quinta-feira, cerca de 130 migrantes morreram depois de dois dias à deriva no mar Mediterrâneo e a pedirem ajuda.
As ONG denunciaram que nas mais de 24 horas decorridas entre o primeiro alarme dado pelo Alarm Phone, que recebe mensagens destes migrantes no mar a pedirem ajuda, e a consumação da tragédia, o navio Ocean Viking (da ONG francesa SOS Méditerranée) "ficou à espera de uma intervenção das autoridades marítimas para coordenar as operações".
"Mas apesar de as autoridades italianas, líbias e maltesas terem sido constantemente informadas, não houve coordenação e nem um único navio de resgate esteve envolvido" no caso, segundo a carta.
O documento explicou que esta é a trágica realidade do Mediterrâneo, onde "desde 2014, mais de 20.000 homens, mulheres e crianças morreram ou desapareceram no mar, confirmando o seu triste recorde como a rota migratória mais mortal do mundo".
"Nenhum dos acordos e medidas adotados pelos Estados, após o fim da operação do Mare Nostrum, conseguiu reduzir a taxa de mortalidade. Desde então, as ONG têm procurado preencher o vazio deixado pelos Estados, mas na ausência de uma coordenação centralizada, oportuna e coerente de busca e salvamento, tragédias como as da quinta-feira passada são consequências para a consciência coletiva", acrescentou a carta.
Ao mesmo tempo, as ONG denunciaram no documento que "se tornaram objeto de uma feroz campanha de deslegitimação e criminalização" por parte das autoridades de alguns países.
As organizações recordaram as palavras da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, que defendeu que "o salvamento no mar não é facultativo" e acrescentaram que é "uma obrigação específica dos Estados, uma obrigação legal, portanto, além de moral".
"Como ONG, estamos no mar para preencher uma lacuna, mas estaríamos dispostos a afastar-nos se a Europa instituísse um mecanismo institucional e coordenado de busca e resgate cujo principal objetivo fosse resgatar pessoas no mar", declararam.
E é por isso que as ONG pedem a Mario Draghi uma reunião para discutir "que iniciativas concretas" o Governo italiano pode tomar, envolvendo a Europa, para "garantir intervenções de resgate coordenadas e oportunas, para que salvar vidas seja mais uma vez uma prioridade" e que tragédias inaceitáveis como os naufrágios ocorridos nos últimos dias nunca mais acontecerão.
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