"Na vila de Quitunda, em Palma, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) recebeu relatos de graves abusos cometidos contra grupos vulneráveis, incluindo agressões físicas a pessoas que tentavam fugir para áreas mais seguras usando barcos", lê-se num comunicado.
Fonte da organização em Maputo disse à Lusa que os relatos foram obtidos junto de deslocados que chegaram a Pemba, capital provincial, numa altura em que nenhuma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) tem presença no distrito de Palma, alegando por isso não poder indicar quem são os autores dos abusos.
Por sua vez, fonte oficial das forças militares moçambicanas, que controlam a zona, disse à Lusa desconhecer a situação relatada.
O cenário suscita preocupação junto do ACNUR.
"Algumas pessoas ainda fogem de Palma, mas com apenas algumas rotas de evacuação disponíveis, estamos preocupados com aquelas que não têm alternativas senão permanecer" no distrito atacado em 24 de março, lê-se ainda na nota.
Um relatório da Organização Internacional das Migrações (OIM) publicado há duas semanas indicava haver pelo menos 11.000 pessoas a precisar de ajuda humanitária urgente, como comida e outros bens essenciais, mas sem haver como a entregar, numa escola de Quitunda, às portas do projeto de gás do norte de Moçambique, maior investimento privado em África.
A vila de Palma fica seis quilómetros a norte e a OIM disse hoje estar "a trabalhar com todos os mecanismos de coordenação que foram criados e com todos os parceiros humanitários" para "começar a planear como fornecer assistência" em condições de segurança a Quitunda e Palma, disse Laura Tomm-Bonde, chefe de missão da OIM em Moçambique, numa conferência de imprensa em Maputo.
Garantir a segurança das operações é uma preocupação central, sublinhou.
Para a OIM é necessário "ter acesso" aos locais e a chefe de missão referiu que decorem "diálogos para que isso aconteça", envolvendo as autoridades.
De acordo com a última atualização feita pela OIM, o número de deslocados registados após o ataque a Palma ascende a 30.477, dos quais 43% são crianças, sendo que 377 chegaram sozinhas a zonas seguras.
Um total de 78% destes deslocados vivem com famílias de acolhimento e 1.028 são idosos, lê-se no documento.
"Dezenas de pessoas foram mortas durante os ataques" a Palma, enquanto "milhares fugiram a pé, pela estrada e por mar".
"Acredita-se que muitas mais pessoas ainda estejam presas em Palma" e que "aquelas que fugiram enfrentaram barreiras significativas ao procurar abrigos seguros dentro e fora do país", concluiu o ACNUR.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados de acordo com o Governo moçambicano.
O ataque a Palma provocou dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
Leia Também: Covid-19. África com mais 402 mortes e 15.408 infetados em 24 horas