A Guiné foi palco, entre outubro de 2019 e outubro de 2020, de intensa agitação em torno da candidatura de Alpha Condé para um terceiro mandato.
O protesto, liderado pela oposição e parte da sociedade civil e repetidamente reprimido, resultou em dezenas de mortes de civis e algumas baixas nas forças de segurança.
Em março de 2020, Condé submeteu a referendo um projeto de uma nova Constituição e invocou essa nova Constituição para ultrapassar o limite de dois mandatos e candidatar-se às eleições presidenciais em outubro de 2020.
Foi declarado vencedor pelo Tribunal Constitucional, mas a oposição denunciou o que considerou ser um "golpe eleitoral", levando a que os Estados Unidos, a França e a União Europeia expressassem dúvidas sobre a credibilidade do processo.
Centenas de pessoas foram presas durante a mobilização e após as eleições presidenciais, segundo defensores dos direitos humanos.
O porta-voz do governo, Tibou Kamara, disse, através de comunicado na noite de sexta-feira, que 57 pessoas tinham sido encaminhadas para o tribunal, das quais oito serão julgadas pelo ataque a um comboio de minérios, no qual três polícias e um soldado foram mortos, num subúrbio de Conakry, durante os confrontos que ocorreram poucos dias após a eleição presidencial, segundo a agência France-Presse.
No comunicado, o porta-voz evoca ainda os casos de Ibrahima Chérif Bah e Ousmane Gaoual Diallo, funcionários da União das Forças Democráticas da Guiné (UFDG), partido liderado pelo principal adversário de Condé nas eleições presidenciais, Cellou Dalein Diallo.
Aqueles funcionários foram presos após as eleições, juntamente com outros oponentes, e acusados, segundo os seus advogados, de fabricação, posse e uso de armas leves e de guerra, além de ataques aos interesses fundamentais da nação.
De acordo com o porta-voz do Governo, 49 pessoas serão julgadas no âmbito deste caso. Em ambos os casos, em relação a outras 40 pessoas não foi deduzida acusação e foram libertadas, acrescentou.
Organismos defensores dos direitos humanos têm denunciado o endurecimento do regime autoritário de Condé, mas o Presidente veio a público afirmar o seu apego "ao respeito pelos direitos humanos e pela dignidade humana", assegura o porta-voz no comunicado.
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