A próxima cimeira de líderes da NATO, agendada para 14 de junho em Bruxelas, "deverá permitir reforçar a coesão dentro da Aliança Atlântica", afirmou o chefe de Estado francês, após um encontro com o secretário-geral daquela organização, Jens Soltenberg, no Eliseu (sede da Presidência francesa).
"A solidariedade entre aliados não é apenas uma palavra, com uma geometria variável. Implica deveres, responsabilidades uns para com os outros. Implica que cada um dos aliados se comprometa a respeitar o Direito Internacional e regras de conduta claras", prosseguiu o líder francês, esperando que a futura cimeira consiga alcançar "um esclarecimento político sobre o papel e as prioridades estratégicas" da organização.
Sem mencionar de forma explícita a Turquia, país que integra o bloco de 30 Estados-membros da Aliança Atlântica e que tem estado envolvido nomeadamente em disputas no Mediterrâneo Oriental, Macron acabou por deixar claro que falava sobre Ancara.
O princípio da solidariedade, segundo continuou Macron, "implica não prosseguir com interesses nacionais contraditórios com os interesses de segurança dos outros aliados, como tem sido por vezes o caso nos últimos anos na Síria, no Mediterrâneo Oriental, na Líbia, no Cáucaso ou em termos de interoperabilidade dos sistemas de armamento [alusão à compra turca do sistema de mísseis de defesa antiaérea russos S-400], o que é absolutamente crítico dentro da NATO".
O Presidente francês apelou também à "responsabilidade dos aliados" nos respetivos esforços na área da Defesa, quer em matéria orçamental, quer no terreno, em particular na luta contra o terrorismo.
"Este não é um momento para dispersar esforços, mas sim para a responsabilidade de cada um e para a cooperação de todos", insistiu Emmanuel Macron, lembrando que França atingiu em 2020, apesar da crise pandémica, o objetivo de canalizar 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para a Defesa (meta traçada pela Aliança) e que o país assumiu um papel na linha da frente na luta contra o terrorismo na região do Sahel.
O Presidente francês pediu ainda, e uma vez mais, uma maior soberania europeia em questões de Defesa, num momento em que se mantêm os receios sobre eventuais implicações de tal passo na Aliança Atlântica.
"Sei que alguns ainda querem ver as coisas em termos de competição (...). Acredito que essa lógica está ultrapassada e os esforços que os europeus estão a fazer são adicionais aos esforços dos nossos aliados norte-americanos", disse.
"A soberania europeia (na Defesa) é um projeto de responsabilidade que reforça a Aliança", frisou Macron, acrescentando: "Queremos revitalizar a Aliança Atlântica, mas dentro de um reforço da sua componente europeia".
Por sua vez, Jens Stoltenberg destacou que a próxima cimeira constitui "uma oportunidade única para fortalecer a aliança entre a Europa e a América do Norte".
A chegada do democrata Joe Biden à Casa Branca (Presidência dos Estados Unidos da América) oferece, deste ponto de vista, novas perspetivas após um clima de grande reserva em relação à NATO, por vezes até de hostilidade, do anterior Presidente Donald Trump.
"Vamos reforçar a nossa unidade e a nossa solidariedade, o que significa consultar mais no seio da NATO tudo o que se refere à nossa segurança, reafirmando os nossos valores fundamentais e reforçando o nosso compromisso com a defesa coletiva, incluindo através do aumento do investimento", garantiu o secretário-geral da organização.
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