"Ele começou a entrar em pânico e disse que era por causa dele", disse a lituana Monika Simkiene, de 40 anos, à AFP no domingo, quando o voo finalmente aterrou em Vílnius.
"Ele virou-se para as pessoas e disse que arriscava a pena de morte", continuou Monika Simkiene, observando que o jornalista parecia "muito calmo" depois de ter chegado a Minsk, certo da sua prisão.
Ele estava "nervoso no início, mas depois percebeu que não havia nada que pudesse fazer e acalmou-se e aceitou", disse outro passageiro, que se apresentou sob o nome de Mantas.
"Ele não gritava, mas era óbvio que estava com muito medo. Diria que, se a vigia tivesse sido aberta, ele teria saltado", acrescentou outro passageiro, Edvinas Dimsa, de 37 anos.
A primeira-ministra lituana, Ingrida Simonyte, foi ao aeroporto de Vílnius para receber o avião, assim como várias dezenas de ativistas da oposição bielorrussa.
Alguns carregavam bandeiras com as cores da oposição bielorrussa nos ombros e outros carregavam cartazes proclamando: "Eu sou / Nós somos Roman Protassevich" ou mesmo "Ryanair, onde está Roman?"
A Bielorrússia forçou o avião, que fazia a rota Atenas (Grécia) -- Vílnius (Lituânia), a aterrar em Minsk e prendeu Protasevich, que enfrenta várias acusações de oposição ao regime do presidente Alexander Lukashenko.
A prisão do ativista gerou indignação nos países ocidentais, com a NATO e a União Europeia a levantarem a ameaça de novas sanções contra a Bielorrússia.
Roman Protasevich, de 26 anos, é o ex-editor-chefe do influente canal Nexta, que se tornou na principal fonte de informação nas primeiras semanas de protestos antigovernamentais após as eleições presidenciais de agosto de 2020.
Em novembro, os serviços de segurança bielorrussos (KGB), herdados do período soviético, registaram o seu nome e o do fundador do Nexta, Stepan Putilo, na lista de "indivíduos envolvidos em atividades terroristas".
Na altura, quando Protasevich e Putilo foram acusados de estar por trás dos protestos contra o regime que começaram na sequência das eleições presidenciais, vistas a nível internacional como fraudulentas, o meio independente russo Meduza classificava aquele canal como "o recurso mais conhecido da oposição bielorrussa".
Sem 'site' próprio, a Nexta contava, em 2020, com uma equipa editorial de quatro pessoas sediada em Varsóvia, na Polónia, e trabalha em exclusivo para as redes sociais, tendo dois canais principais na rede Telegram, que totalizam, neste momento, cerca de dois milhões de subscritores, trabalhando sobre um país com menos de 10 milhões de habitantes.
Em agosto do ano passado, quando foram desencadeados os protestos na Bielorrússia, a Nexta -- que o New York Times considerou "uma espécie de Rádio Europa Livre para a era da Internet" - chegou a ser o 15.º canal mais popular de Telegram a nível mundial, segundo um artigo da página Rest of The World.
A popularidade da Nexta -- e da plataforma de mensagens Telegram -- na Bielorrússia prende-se com a possibilidade que abriu de contornar as restrições à partilha de informação impostas pelo regime, em particular durante o pico dos protestos.
"Um bloqueio da Internet é um erro enorme das autoridades. O Telegram apanhou quase todos os bielorrussos que estão a encher as ruas para tentar trazer mudanças ao país", disse Protasevich à BBC, em agosto do ano passado.
Segundo o serviço russo da BBC, Protasevich havia pedido formalmente asilo político à Polónia, à semelhança de Putilo.
A crise na Bielorrússia foi desencadeada após as eleições de 09 de agosto do ano passado, que, segundo os resultados oficiais, reconduziu o presidente Alexander Lukashenko, no poder há 26 anos, para um sexto mandato, com 80% dos votos.
A oposição denunciou a eleição como fraudulenta e milhares de bielorrussos saíram às ruas por todo o país para exigir o afastamento de Lukashenko.
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