No centro do conflito (também) diplomático criado pelo desvio de um avião da Ryanair de Vílnius, na Lituânia, para Minsk, na Bielorrússia - alegadamente orquestrado pelo regime de Alexander Lukashenko - está um nome: o do jornalista Roman Protasevich.
A situação ocorreu ontem, quando uma aeronave da companhia aérea irlandesa de baixo custo Ryanair, saída da Grécia, foi desviada para Minsk sob o pretexto de uma ameaça de bomba para deter um jornalista que tinha fugido para o estrangeiro. O caso já foi condenado pela NATO, União Europeia, Reino Unido e pela própria empresa de aviação.
Mas quem é Roman Protasevich e por que razão estará a ser perseguido pelo governo da Bielorrússia? Roman é um jornalista, de 26 anos, cujo canal se tornou a principal fonte de informação durante as primeiras semanas de protestos antigovernamentais após as eleições presidenciais de agosto de 2020.
Em novembro do mesmo ano, o Comité de Investigação acusou Protasevich e Stepan Putilo, fundadores do canal Nexta, de organizarem motins e incitarem ao ódio contra funcionários e polícia. Na sequência dessa acusação, os dois elementos foram incluídos na lista de terroristas e o poder judicial bielorrusso considerou a Nexta uma organização extremista.
Я ОФИЦИАЛЬНО ПРИЗНАН ТЕРРОРИСТОМ
— Roman Protasevich (@pr0tez) November 19, 2020
Да, это не шутка. КГБ Беларуси внёс меня в список террористов. Теперь моя фамилия стоит в одном списке с ребятами из ИГИЛ. pic.twitter.com/k74wdaT1lR
Em agosto do ano passado, quando foram desencadeados os protestos na Bielorrússia, a Nexta - que o New York Times considerou "uma espécie de Rádio Europa Livre para a era da Internet" - chegou a ser o 15.º canal mais popular de Telegram a nível mundial, segundo um artigo da página Rest of The World.
A popularidade da Nexta - e da plataforma de mensagens Telegram - na Bielorrússia prende-se com a possibilidade que abriu de contornar as restrições à partilha de informação impostas pelo regime, em particular durante o pico dos protestos.
Segundo o serviço russo da BBC, Protasevich havia pedido formalmente asilo político à Polónia, à semelhança de Putilo.
Protasevich estaria a ser seguido
Anteriormente, o jornalista bielorrusso já tinha notado que estaria a ser seguido em Atenas, alegadamente por agentes ligados aos serviços secretos da Bielorrússia. As versões sobre a aterragem de emergência são também contraditórias, com Minsk a relatar que foram os próprios pilotos a solicitar autorização, enquanto no aeroporto de Vílnius foi reportado um suposto conflito entre os pilotos e alguns dos passageiros.
Através do Telegram, o canal Nexta defendeu que foram os agentes dos serviços secretos bielorrussos que alertaram para a existência de um alegado engenho explosivo no interior do avião. Fontes próximas da presidência relataram que foi Lukashenko quem ordenou pessoalmente a interceção do avião, que foi escoltado por um caça MiG-19, a fim de supostamente defender a Europa de uma ameaça à sua segurança.
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