O Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Checa informou que convocou hoje para consultas o embaixador bielorrusso em Praga, Valery Kurdyukov, para transmitir um "forte protesto" perante os acontecimentos de domingo.
As autoridades bielorrussas detiveram o jornalista Roman Protasevich no domingo, depois de o Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, ter ordenado que um voo da companhia aérea Ryanair, que fazia a ligação entre Atenas (capital da Grécia) e Vilnius (capital da Lituânia), fosse desviado para o aeroporto de Minsk (capital da Bielorrússia).
Tanto a Grécia como a Lituânia são Estados-membros da NATO e da União Europeia (UE).
"Será transmitido [ao embaixador] um forte protesto contra o procedimento absolutamente inaceitável em relação à interrupção de um voo civil entre Atenas e Vilnius", escreveu o chefe da diplomacia checa, Jakub Kulhánek, na sua conta na rede social Twitter.
"Tememos que o regime bielorrusso tenha manipulado a lei de transporte aéreo internacional para perseguir os seus opositores", acrescentou o ministro checo, pedindo ainda a "libertação imediata" do jornalista e opositor Roman Protasevich, de 26 anos.
A partir de Roma, o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Luigi Di Maio, classificou a "inaceitável" intercetação do aparelho aéreo civil, que tinha a bordo mais de uma centena de passageiros, como "um sequestro de Estado".
"Consideramos (...) inaceitável o que aconteceu. É um sequestro de Estado e não é aceitável", declarou Luigi Di Maio, durante um evento 'online', citado pelas agências italianas.
"Penso que em breve o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, também falará sobre o assunto com o secretário-geral da NATO (Jens) Stoltenberg. É evidente que isto não é apenas uma questão europeia, mas uma questão de uma comunidade de valores que partilhamos com muitos dos nossos aliados, incluindo do outro lado do Atlântico", acrescentou o ministro italiano.
O Governo de Espanha também se juntou ao tom de condenação, classificando a ação do regime bielorrusso como "inadmissível e intolerável".
Fontes do executivo espanhol, citadas pela agência EFE, indicaram ainda que Madrid alinhará com os restantes parceiros da UE em futuras medidas que visem o regime de Minsk.
As reações destas capitais europeias surgem horas antes do início do Conselho Europeu, que decorre entre hoje e terça-feira em Bruxelas e que acrescentou o incidente aos pontos previstos em agenda, no qual os líderes dos 27 do bloco comunitário irão discutir "possíveis sanções" contra a Bielorrússia.
"A UE considerará as consequências desta ação, incluindo a adoção de medidas contra os responsáveis", disse hoje o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, numa declaração em que pediu também a "libertação imediata" do jornalista e opositor Roman Protasevich e a realização de uma investigação internacional ao caso.
No domingo, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português expressou uma "firme condenação" face ao incidente "inaceitável".
"A aterragem forçada hoje [domingo] na Bielorrússia de um avião europeu, em rota entre duas capitais da União Europeia, é inaceitável e merece a nossa firme condenação. Exigimos a libertação imediata de Roman Protasevich", publicou o ministério português no Twitter.
Este incidente está a colocar novamente a Bielorrússia no centro da indignação e das críticas da comunidade internacional.
A Bielorrússia assegurou hoje que agiu dentro da legalidade ao intercetar o voo comercial da Ryanair após uma ameaça de bomba, rejeitando as acusações dos países europeus de que Minsk desviou o avião para deter um opositor que estava a bordo do aparelho civil.
Após a aterragem no aeroporto de Minsk, os serviços especiais da Bielorrússia intervieram, mas não encontraram qualquer engenho explosivo no aparelho.
Os passageiros foram obrigados a passar por um controlo, altura em que o jornalista Roman Protasevich foi detido.
A Bielorrússia atravessa uma crise política desde as eleições de 09 de agosto de 2020, que segundo os resultados oficiais reconduziram o Presidente, Alexander Lukashenko, no poder há mais de duas décadas, para um sexto mandato, com 80% dos votos.
A oposição denunciou a eleição como fraudulenta e reivindicou a vitória nas presidenciais.
Desde então, o país testemunhou grandes protestos populares para exigir o afastamento de Lukashenko, manifestações essas que têm sido reprimidas com violência pelas forças de segurança da Bielorrússia.
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