Em comunicado conjunto, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a União Africana e a Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA), assim como outros países, como, por exemplo, França, o Reino Unido, os Estados Unidos, a Alemanha e a União Europeia expressaram "profunda preocupação" pela situação no Mali, na sequência da detenção do Presidente, Bah Ndaw, e do primeiro-ministro, Moctar Ouané.
A detenção das duas principais figuras do Estado maliano ocorreu poucas horas depois de anunciados os titulares das pastas do Governo e cada vez mais se assemelha a uma tentativa de golpe de Estado.
Estes países e organizações "condenam veementemente a tentativa" de golpe e "reafirmam o firme apoio às autoridades de transição", exortando, por isso, para que a "transição seja retomada e concluída dentro do prazo".
"A comunidade internacional rejeita qualquer ato imposto por coerção, incluindo demissões forçadas", prosseguem.
Na nota, a comunidade internacional também se congratulou com a "chegada de uma delegação da CEDEAO", na terça-feira, e pedem "total cooperação" para que seja retomado "de imediato o curso normal da transição" política no Mali.
O Presidente do Mali, Bah Ndaw, e o primeiro-ministro, Moctar Ouané, foram hoje detidos e transportados para um campo militar perto de Bamako, capital do país, por um grupo de soldados insatisfeitos com o novo Governo.
"O Presidente e o primeiro-ministro estão aqui em Kati para tratar de assuntos que lhes dizem respeito", disse um alto funcionário militar à France-Presse (AFP), que confirmou esta informação junto de outra fonte, sob condição de anonimato.
O campo de Kati é considerado a maior instalação militar maliana e foi neste local que o antigo Presidente eleito, Ibrahim Boubacar Keïta, foi obrigado a renunciar ao cargo por um grupo de coronéis golpistas, em 18 de agosto de 2020.
Será este mesmo grupo que está a levar a cabo o aparente golpe de Estado, nove meses depois, de acordo com a AFP.
Em 2012, também o então primeiro-ministro, Modibo Diarra, foi detido por golpistas e forçado a renunciar.
Esta alegada tentativa de golpe de Estado está a ocorrer poucas horas depois do anúncio do novo Governo, ainda maioritariamente dominado por militares.
O novo Governo não inclui oficiais próximos da Junta Militar, dos quais Assimi Goïta era líder, que tinha conquistado o poder depois do golpe de 2020.
Estes coronéis criaram os órgãos de transição algumas semanas depois do golpe, entre os quais um chefe de Estado - o militar aposentado Bah Ndaw - e um primeiro-ministro - o civil Moctar Ouané.
Contudo, sob forte contestação política e social, Ouané renunciou ao cargo há dez dias, mas foi imediatamente reconduzido pelo Presidente transitório e indigitado para formar Governo.
A principal incógnita era saber quais seriam as pastas para os militares, em particular os próximos da antiga Junta Militar, aumentando nos últimos dias os receios de que os coronéis golpistas rejeitassem as escolhas do primeiro-ministro.
De acordo com as alterações proferidas na rádio e televisões do país, no novo Governo as pastas da Defesa, Segurança, Administração do Território e Reconciliação Nacional, foram para militares, mas deixando de fora dois oficiais da antiga junta, Sadio Câmara e Modibo Kone, que tutelavam a Defesa e a Segurança.
Os dois coronéis foram substituídos por Souleymane Doucoure e pelo general Mamadou Lamine Ballo, respetivamente.
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