Sudão acusa Etiópia de iniciar segundo enchimento de barragem sem acordo

O Sudão denunciou hoje que a Etiópia iniciou a segunda fase de enchimento da megabarragem que está a construir no Nilo Azul, que estava prevista para junho, com o início da estação das chuvas, sem ter alcançado um acordo.

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© Zacharias Abubeker/Bloomberg via Getty Images

Lusa
25/05/2021 23:47 ‧ 25/05/2021 por Lusa

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"A Etiópia iniciou o segundo enchimento da barragem do Renascimento [Grande Barragem do Renascimento Etíope, GERD] e completará esta fase em julho e agosto", assegurou o negociador chefe da delegação sudanesa, Mustafa Hussein, numa conferência de imprensa em Cartum, e citado pela agência noticiosa Efe.

O anúncio surge depois de Sudão e Egito, de um lado, e Etiópia, do outro, se terem acusado mutuamente de intransigência e terem levantado o tom nas mais recentes trocas de declarações desde a última ronda de negociações para um acordo sobre esta segunda fase do enchimento da barragem, que acabaram por fracassar.

Realizadas entre 04 e 06 de abril, sob os auspícios da presidência rotativa da União Africana, Adis Abeba rejeitou a proposta de Cairo e Cartum para formar um quarteto de mediação composto por Nações Unidas, Estados Unidos da América, União Europeia e a própria organização regional africana.

Na sua conferência de imprensa, Hussein reiterou a importância das "garantias internacionais nas negociações" devido à intransigência da Etiópia.

Da mesma forma, o responsável assinalou que a Etiópia não vai assinar qualquer acordo sobre o segundo enchimento devido à sua situação interna, uma vez que é palco de um conflito na região nortenha de Tigray e que estão previstas eleições gerais para 21 de junho.

Após o fracasso das últimas rondas negociais, a Etiópia disse que iria avançar com o processo de enchimento da GERD e que fez uma oferta ao Egito e ao Sudão para facilitar a troca de informações sobre o processo, que ambos os países rejeitaram.

Cairo e Cartum, por sua vez, alertaram Adis Abeba sobre a tomada de qualquer "ação unilateral", afirmando que, nessa eventualidade, "todas as opções estarão abertas".

Os dois Estados consideram que o processo de enchimento da barragem pode afetar gravemente os níveis de água do Nilo nos seus respetivos troços.

A Etiópia, por sua vez, considera que o projeto é estratégico para o seu desenvolvimento, tanto em termos de irrigação, como em termos de produção de eletricidade.

A Grande Barragem do Renascimento Etíope (GERD, em inglês), avaliada em mais de 4 mil milhões de dólares (mais de 3,5 mil milhões de euros), deverá recolher 13,5 mil milhões de metros cúbicos de água do rio Nilo Azul durante a época chuvosa, aumentando a reserva para 18,4 mil milhões de metros cúbicos, segundo este departamento governamental.

O Nilo Azul, rio que conflui com Nilo Branco e com o rio Atbara, é um dos principais contribuintes do rio Nilo, sendo responsável, durante a estação chuvosa, por até cerca de 80% da água deste último.

Atualmente, a GERD está 80% concluída, esperando-se que atinja a plena capacidade de produção em 2023, o que a tornará na maior central hidroelétrica africana e a sétima maior do mundo, segundo noticiam órgãos de comunicação social estatais.

Sudão e Egito temem que a construção do projeto, avaliado em e que vai permitir à Etiópia gerar 6.000 megawatts de eletricidade, coloque o caudal do rio Nilo sob o controlo da administração etíope.

Com cerca de 6.000 quilómetros, o rio Nilo é uma fonte vital para o abastecimento de água e eletricidade para cerca de 10 países da África Oriental.

Leia Também: Sudão do Sul devolve 72 mil vacinas por incapacidade de distribuição

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