"Recebemos relatos de obstáculos que impedem os aviões europeus de descolar e pousar em Moscovo, o que atrapalhou o tráfego. Mas ainda não sabemos se isso é caso a caso (...) ou uma diretriz geral das autoridades russas a fim de forçar aviões europeus a sobrevoar a Bielorrússia", disse Borrell à entrada numa reunião com os ministros da Defesa da UE, em Lisboa.
"Estamos a estudar a situação, mas, francamente, temos de esperar e ver antes de agir. O risco de escalada ainda existe com a Rússia", comentou Borrell.
O ministro da Defesa português, João Gomes Cravinho, anfitrião do encontro, disse que estes obstáculos estão "na lógica de uma resposta às sanções europeias contra a Bielorrússia".
Três voos das capitais da União Europeia (UE) para Moscovo -- um voo de hoje da Air France com a rota Paris/Moscovo, um outro da mesma companhia aérea na quarta-feira e um da Austrian Airlines que faria a ligação Viena/Moscovo na quinta-feira - foram cancelados por falta de autorização das autoridades russas para novas rotas com o objetivo de evitar sobrevoar a Bielorrússia.
Por seu lado, a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, disse hoje, numa mensagem publicada na rede social Facebook, que a União Europeia, ao recomendar às companhias aéreas que contornem a Bielorrússia, comporta-se "de forma irresponsável, colocando em risco a segurança dos passageiros".
O encerramento das "rotas de centenas de voos (...) cria problemas colossais para os cidadãos", declarou Maria Zakharova.
Segundo o portal de notícias russo RBC, a Agência Federal Russa de Transporte Aéreo (Rosaviatsia) está a analisar a retoma dos voos das companhias aéreas europeias para este país sem necessidade de sobrevoar a Bielorrússia e, segundo uma fonte do Ministério dos Transportes russo, a respetiva licença será concedida "em breve".
A fonte anónima do Ministério dos Transportes russo explicou que a situação atual se deve à necessidade de desenvolver rotas alternativas que evitem o espaço aéreo da Bielorrússia, após o conflito entre Bruxelas e Minsk que se seguiu ao desvio de um avião ordenado pelo Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, e detenção de um jornalista bielorrusso opositor que ia a bordo.
O escândalo internacional começou após o desvio forçado para o aeroporto de Minsk, ordenado no último domingo pelo Presidente bielorrusso, de um voo da companhia aérea irlandesa Ryanair, que fazia a rota Atenas-Vílnius e onde viajava o jornalista opositor ao regime Roman Protrasevich.
O jornalista e a sua companheira foram detidos quando o avião aterrou em Minsk e os passageiros foram obrigados a novo controlo pelas autoridades bielorrussas.
Desde quarta-feira, praticamente apenas companhias aéreas chinesas e russas sobrevoam a Bielorrússia, de acordo com o serviço de rastreamento de voos FlightRadar24.
Entre as empresas que decidiram evitar o espaço aéreo bielorrusso estão, além da Air France e da Austrian Airlines, a Lufthansa, a Swiss, a Finnair, a Iberia, a polonesa LOT, a Air Baltic, a KLM e a própria Ryanair.
Além disso, a Ucrânia suspendeu todos os voos entre os dois países e proibiu as suas companhias aéreas de cruzar o espaço aéreo bielorrusso, apesar de o aeroporto de Kiev perder 10% de sua receita por causa da medida.
A companhia aérea bielorrussa Belávia, por sua vez, anunciou o cancelamento de voos para cerca de uma dezena de países devido ao encerramento do espaço aéreo pela UE para a companhia.
Hoje, Lukashenko vai encontrar-se com o Presidente russo, Vladimir Putin, para debater a situação criada em torno do incidente com o voo da Ryanair.
A Rússia tornou-se o único apoio da Bielorrússia neste seu mais recente confronto com o Ocidente.
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