O chefe de Estado-Maior do Exército sudanês, general Mohamed Ozman al Husein, indicou em declarações numa conferência de imprensa em Cartum que as manobras tiveram lugar no quadro da "cooperação militar conjunta entre os dois exércitos".
"O nosso objetivo é aumentar as capacidades de combate das forças para servir de dissuasão aos que estão à espreita e aos inimigos, bem como para estar à altura das ameaças previstas", acrescentou Ozman, especificando que os exercícios militares terrestres e aéreos "não são dirigidos contra ninguém" em particular.
O militar afirmou ainda que tanto o Sudão como o Egito têm de "estar sempre prontos para todos os desafios nas suas fronteiras, bem como outros".
Pelo seu lado, o Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas egípcias, Mohamed Farid Hegazy, afirmou que as manobras representam um "treino específico e estratégico no contexto dos desafios regionais e têm por objetivo aumentar as capacidades dos dois exércitos para dissuadir qualquer possível ameaça".
Os exercícios militares de seis dias envolveram forças terrestres e aéreas dos dois países e tiveram lugar na região de Om Siala, estado de Kordofan, do norte do Sudão, bem como em outras regiões do norte e oeste do mesmo país.
O Sudão e o Egito estão a negociar há vários anos com a Etiópia as condições para a construção por Adis Abeba da chamada Grande Barragem Etíope do Renascimento (GERD, na sigla em inglês), localizada no Nilo Azul.
Os dois países temem que a barragem afete o fluxo de água do rio, do qual o Egito depende crucialmente para o seu abastecimento de água potável.
As conversações com a Etiópia sobre a disputa do Nilo foram interrompidas em abril. Vários esforços internacionais e regionais têm desde então tentado reavivar as negociações sem sucesso.
Em março, o Presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sissi, advertiu que os direitos do Egito sobre o Nilo são "intocáveis" e que haveria uma "instabilidade inimaginável", caso a Etiópia prossiga com a segunda fase do enchimento do reservatório sem um acordo internacional.
Não obstante, a Etiópia insistiu que avançará com a segunda fase do enchimento, mesmo de forma unilateral, e, embora o início deste estivesse previsto para junho, com o início da estação das chuvas, o Sudão denunciou na passada terça-feira que já tinha começado.
O Egito e o Sudão argumentam que o plano da Etiópia de acrescentar 13,5 mil milhões de metros cúbicos de água em 2021 ao reservatório da barragem constitui uma ameaça.
O Egito tem procurado um acordo juridicamente vinculativo que explicite a forma como a barragem é operada e enchida, com base no direito internacional e nas normas que regem os rios transfronteiriços.
No passado dia 24, o Presidente norte-americano, Joe Biden, reconheceu como legítimas as preocupações do Egito sobre o acesso à água do Nilo e sublinhou o interesse da sua administração em alcançar "uma resolução diplomática".
O Egito depende do Nilo em mais de 90% do seu abastecimento de água.
A Etiópia argumenta que a barragem, cuja construção é estimada em cerca de 5 mil milhões de dólares (4,09 mil milhões de euros), é essencial, e que a grande maioria da sua população carece de eletricidade.
Já o Sudão quer que a Etiópia coordene consigo o funcionamento da barragem para proteger as suas próprias barragens no Nilo Azul geradoras de energia.
O Nilo Azul, o principal afluente do Nilo, junta-se ao Nilo Branco em Cartum, antes de percorrer o Egito em direção ao norte até desaguar no Mediterrâneo.
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