"Não nos estamos a iludir e não estamos a tentar dar a impressão de que haverá um avanço, decisões históricas que levarão a mudanças fundamentais", disse Serguei Lavrov num comunicado divulgado pelo Ministério dos negócios Estrangeiros russo.
Os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, que vem à Europa para participar nas cimeiras anuais da NATO e do G7, e da Rússia, Vladimir Putin, reúnem-se a 16 deste mês em Genebra, tendo sido anunciado que a intenção é "normalizar" as relações entre os Estados Unidos e a Rússia, o que beneficiará os dois países e a comunidade internacional.
A reunião de Genebra será a primeira de alto nível entre os presidentes dos dois países desde que Putin e o ex-chefe de Estado norte-americano Donald Trump (2017/21) se encontraram em Helsínquia, em julho de 2018.
"Mas o próprio facto de haver uma conversa entre os líderes das duas principais potências nucleares é importante e deve ser incentivada de todas as formas possíveis", sublinhou Lavrov numa conferência 'online' com os seus homólogos do BRICS [acrónimo em inglês de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
O encontro vai ocorrer numa altura em que as relações entre os dois países têm estado tensas.
Washington tem acusado Moscovo de interferência nas eleições, invasão de computadores, espionagem, repressão contra o opositor Alexei Navalny, ameaça militar sobre a Ucrânia e a anexação da Crimeia ucraniana.
A Rússia respondeu com inúmeras contra sanções e as duas potências não têm embaixadores nas respetivas capitais há várias semanas.
Moscovo também acusa a NATO de atuar militarmente nas fronteiras russas com o envio de tropas e com a realização de exercícios, afirmações reiteradas hoje por Lavrov.
Segundo o chefe da diplomacia russa, Moscovo tem insistido há vários anos para a NATO concordar com "medidas de desaceleração", mas a Aliança Atlântica, disse, "não promove discussões normais".
No entanto, as reuniões preparatórias para a cimeira de Genebra foram consideradas "construtivas" por ambos os lados, nomeadamente a primeira frente a frente realizada em meados de maio, na Islândia, entre Lavrov e seu homólogo norte-americano, Antony Blinken, o que, porém, não foi suficiente para apaziguar a tensão bilateral.
Domingo passado, Biden prometeu que diria a Putin que os Estados Unidos "não ficarão de braços cruzados" enquanto a Rússia "violar" os direitos humanos.
Lavrov respondeu e assegurou que Moscovo está "pronta" para discutir "problemas que existem nos Estados Unidos", como o "processo dos acusados nos distúrbios de 06 de janeiro [deste ano]", quando ativistas pró-Trump lideraram um ataque ao Capitólio.
"Estão a acontecer muitas coisas realmente interessantes, inclusive do ponto de vista dos direitos humanos, do ponto de vista dos direitos da oposição, do ponto de vista da proteção da oposição", argumentou Lavrov.
A 21 de maio, o assessor da Segurança Nacional norte-americano, Jake Sullivan, e o seu homólogo russo, Nikolai Patrushev, reuniram-se precisamente em Genebra, com as duas partes a expressarem confiança na possibilidade de encontrar "soluções mutuamente aceitáveis" em várias áreas.
Em abril, numa chamada telefónica, Biden propôs a Putin uma reunião para breve num país terceiro, a que o Kremlin respondeu positivamente e que se tornará realidade em Genebra.
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