"Vergonha". Berlim e Londres reagem à entrevista ao jornalista detido
A Alemanha e o Reino Unido classificaram hoje como "vergonha" e "perturbadora" a entrevista ao jornalista e opositor do regime Roman Protasevich transmitida pela televisão estatal bielorrussa, em que este se confessa culpado das acusações avançadas por Minsk.
© Getty Images
Mundo Bielorrússia
Para o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, a entrevista transmitida na quinta-feira pela estação estatal bielorrussa ONT, que classificou como "perturbadora", foi "claramente realizada sob coação".
"A perseguição daqueles que defendem os direitos humanos e a liberdade dos 'media' na Bielorrússia tem de parar", afirmou Dominic Raab, numa mensagem publicada na rede social Twitter, acrescentando que todas "as pessoas envolvidas na filmagem, coação e na realização da entrevista devem ser responsabilizadas".
A Alemanha também reagiu à transmissão das declarações de Roman Protasevich pelo canal estatal bielorrusso, considerando que "a entrevista-confissão é uma vergonha para a estação que a difundiu", bem como "para os dirigentes bielorrussos".
O porta-voz do Governo alemão, Steffen Seibert, denunciou que esta entrevista revelou "o total desprezo pela democracia" por parte da liderança bielorrussa.
"Na verdade, o seu desprezo pelos seres humanos", frisou Steffen Seibert.
Na quinta-feira, a televisão estatal bielorrussa ONT transmitiu uma entrevista a Roman Protasevich, na qual o jornalista e opositor se confessa culpado das acusações apresentadas contra ele pelo regime de Minsk e afirma que quer corrigir os erros.
Protasevich foi preso em 23 de maio depois de as autoridades bielorrussas terem forçado o desvio para o aeroporto de Minsk de um voo da companhia aérea irlandesa Ryanair, que fazia a rota Atenas (Grécia)-Vilnius (Lituânia).
No avião comercial, viajava o jornalista com a sua companheira, Sofia Sapega.
Os dois foram detidos, após a aterragem na capital bielorrussa.
Na entrevista, o antigo editor da NEXTA (meio de comunicação de oposição ao regime de Minsk), que teve um papel importante na contestação contra o Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, admitiu ser culpado da organização de ações contra as autoridades, de ter organizado os protestos que ocorreram no país após as eleições presidenciais de agosto passado e disse mesmo que reconhecia "abertamente" que foi uma das pessoas que divulgou apelos para que a população fosse para as ruas protestar.
No fim da entrevista de uma hora e meia, Protasevich, de 26 anos, começa a chorar e cobre o rosto com as mãos.
A Bielorrússia atravessa uma crise política desde as eleições de 09 de agosto de 2020, que segundo os resultados oficiais reconduziram o Presidente Alexander Lukashenko, no poder há mais de duas décadas, para um sexto mandato, com 80% dos votos.
A oposição considerou o escrutínio fraudulento, tal como vários países ocidentais, e foi desencadeada uma vaga de contestação sem precedentes naquela antiga república soviética.
Recusando qualquer concessão, o chefe de Estado bielorrusso prendeu ou forçou ao exílio a maioria dos seus opositores e denuncia manifestações conduzidas pelo Ocidente para o derrubar.
A repressão violenta do movimento de contestação causou vários mortos e várias centenas de pessoas foram detidas.
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