Trudeau "desapontado" com silêncio da igreja nos internatos indígenas
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse sexta-feira que está "profundamente desapontado" por a igreja católica romana não ter oferecido um pedido formal de desculpas pelo seu papel no antigo sistema de internatos indígenas no país.
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Mundo Canadá
Trudeau instou a igreja a "dar um passo à frente" e a assumir as suas responsabilidades, colocando um fim a anos de silêncio, após os restos mortais de 215 crianças terem sido localizados, na semana passada, numa antiga escola residencial para indígenas que já foi a maior do país.
"Como católico, estou profundamente desapontado com a posição que a igreja católica tem assumido agora e nos últimos anos", afirmou Trudeau.
"Quando fui ao Vaticano, há alguns anos, pedi diretamente ao papa Francisco para que avançasse com um pedido de desculpa, de perdão, e com a restituição e disponibilização desses registos e ainda estamos a assistir à resistência da igreja, possivelmente do Canadá", criticou o primeiro-ministro.
Segundo Trudeau, a igreja continua "em silêncio" e "não está a dar o passo em frente".
"Não está a mostrar a liderança que, sinceramente, devia estar no centro da nossa fé, do perdão, da responsabilidade, do reconhecimento da verdade", lamentou o líder canadiano.
Entre o século 19 e a década de 1970, mais de 150 mil crianças indígenas do Canadá foram forçadas a frequentar escolas cristãs financiadas pelo Estado numa tentativa de integração na sociedade canadiana.
O Governo canadiano já admitiu que o abuso físico e sexual era galopante nestas escolas, onde os alunos eram espancados por falarem as suas línguas nativas.
Trudeau defendeu que os católicos do país devem abordar o assunto com os bispos e cardeais.
"Esperamos que a igreja se chegue à frente e assuma a responsabilidade pelo papel que desempenhou nisto e esteja presente para ajudar no luto e na cicatrização, inclusivamente com registos. É algo que a United Church e outros fizeram e que esperamos que a Igreja Católica faça também", concluiu Trudeau.
As declarações de Trudeau ocorreram uma semana após a descoberta dos restos mortais de 215 crianças na escola residencial indígena de Kamloops, que já foi a maior do país, algumas das quais com apenas três anos, vítimas de abusos.
Os restos mortais das crianças foram detetados com a ajuda de um radar de penetração no solo, no passado fim de semana, e é possível que venham a ser detetados mais corpos, porque algumas zonas da escola ainda não foram revistas, disse, Rosanne Casimir líder da Primeira Nação Tk'emlups te Secwépemc, num comunicado divulgado na sexta-feira.
O Governo de Justin Trudeau comprometeu-se ainda a apoiar os esforços para encontrar mais sepulturas não identificadas nas antigas escolas residenciais para estudantes indígenas, instituições que mantinham crianças retiradas de famílias indígenas em todo o país.
A Kamloops Indian Residential School era a maior instituição do género no Canadá e foi gerida pela igreja católica romana ente 1890 e 1969, antes de o governo federal assumir a sua gestão como escola diurna, até 1978, ano em que foi encerrada.
Quase três quartos das 130 escolas residenciais eram administradas por congregações missionárias católicas.
A Comissão de Verdade e Reconciliação tem registo de pelo menos 51 crianças mortas na escola entre 1915 e 1963.
Identificou, também, cerca de 3.200 mortes confirmadas em escolas de todo o país, mas frisou que as escolas não registaram a causa de morte em quase metade.
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