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Trudeau "desapontado" com silêncio da igreja nos internatos indígenas

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse sexta-feira que está "profundamente desapontado" por a igreja católica romana não ter oferecido um pedido formal de desculpas pelo seu papel no antigo sistema de internatos indígenas no país.

Trudeau "desapontado" com silêncio da igreja nos internatos indígenas
Notícias ao Minuto

06:17 - 05/06/21 por Lusa

Mundo Canadá

Trudeau instou a igreja a "dar um passo à frente" e a assumir as suas responsabilidades, colocando um fim a anos de silêncio, após os restos mortais de 215 crianças terem sido localizados, na semana passada, numa antiga escola residencial para indígenas que já foi a maior do país.

"Como católico, estou profundamente desapontado com a posição que a igreja católica tem assumido agora e nos últimos anos", afirmou Trudeau.

"Quando fui ao Vaticano, há alguns anos, pedi diretamente ao papa Francisco para que avançasse com um pedido de desculpa, de perdão, e com a restituição e disponibilização desses registos e ainda estamos a assistir à resistência da igreja, possivelmente do Canadá", criticou o primeiro-ministro.

Segundo Trudeau, a igreja continua "em silêncio" e "não está a dar o passo em frente".

"Não está a mostrar a liderança que, sinceramente, devia estar no centro da nossa fé, do perdão, da responsabilidade, do reconhecimento da verdade", lamentou o líder canadiano.

Entre o século 19 e a década de 1970, mais de 150 mil crianças indígenas do Canadá foram forçadas a frequentar escolas cristãs financiadas pelo Estado numa tentativa de integração na sociedade canadiana.

O Governo canadiano já admitiu que o abuso físico e sexual era galopante nestas escolas, onde os alunos eram espancados por falarem as suas línguas nativas.

Trudeau defendeu que os católicos do país devem abordar o assunto com os bispos e cardeais.

"Esperamos que a igreja se chegue à frente e assuma a responsabilidade pelo papel que desempenhou nisto e esteja presente para ajudar no luto e na cicatrização, inclusivamente com registos. É algo que a United Church e outros fizeram e que esperamos que a Igreja Católica faça também", concluiu Trudeau.

As declarações de Trudeau ocorreram uma semana após a descoberta dos restos mortais de 215 crianças na escola residencial indígena de Kamloops, que já foi a maior do país, algumas das quais com apenas três anos, vítimas de abusos.

Os restos mortais das crianças foram detetados com a ajuda de um radar de penetração no solo, no passado fim de semana, e é possível que venham a ser detetados mais corpos, porque algumas zonas da escola ainda não foram revistas, disse, Rosanne Casimir líder da Primeira Nação Tk'emlups te Secwépemc, num comunicado divulgado na sexta-feira.

O Governo de Justin Trudeau comprometeu-se ainda a apoiar os esforços para encontrar mais sepulturas não identificadas nas antigas escolas residenciais para estudantes indígenas, instituições que mantinham crianças retiradas de famílias indígenas em todo o país.

A Kamloops Indian Residential School era a maior instituição do género no Canadá e foi gerida pela igreja católica romana ente 1890 e 1969, antes de o governo federal assumir a sua gestão como escola diurna, até 1978, ano em que foi encerrada.

Quase três quartos das 130 escolas residenciais eram administradas por congregações missionárias católicas.

A Comissão de Verdade e Reconciliação tem registo de pelo menos 51 crianças mortas na escola entre 1915 e 1963.

Identificou, também, cerca de 3.200 mortes confirmadas em escolas de todo o país, mas frisou que as escolas não registaram a causa de morte em quase metade.

Leia Também: Trudeau pede desculpa a italo-canadianos por detenção na II Grande Guerra

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