Pandemia esquecida no regresso dos parisienses à vida noturna
A pandemia está longe das preocupações dos parisienses que saíram pela primeira vez à noite em sete meses.
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Mundo Covid-19
Com bom tempo, esplanadas alargadas a todos os centímetros de passeio e um ambiente convidativo, Paris voltou a ser uma festa.
"Há muita emoção e claro que estamos contentes, nem olhamos para as horas. Vamos tentar ficar o máximo possível, até ao último minuto", disse à agência Lusa Margot, 25 anos, que jantava com as amigas num badalado bar de Oberkampf, um dos sítios preferidos da juventude parisiense para se reunir ao final do dia.
O recolher obrigatório em França passou esta noite para as 23:00 e foi a primeira vez em largos meses que os parisienses puderam voltar a ver a noite cair numa esplanada, num restaurante ou pura e simplesmente entre amigos num parque. E a última coisa na cabeça de quem saiu esta noite era a pandemia.
"Não pensamos na pandemia. E há muito tempo que não penso nisso, exceto quando somos obrigados a regressar a casa por causa do recolher obrigatório", confessou Rémi que estava numa esplanada mais à frente.
O dia 09 de junho marcou a terceira fase do desconfinamento em França, antes do final das medidas de restrição que deverá acontecer a 30 de junho, caso os índices pandémicos mantenham a tendência regressiva. Assim, voltou a ser possível comer dentro dos restaurantes, ir ao ginásio ou mesmo a realização de festivais ao ar livre.
Apesar de a data ser significativa e haver muita gente nas ruas, a diferença não se fez sentir do lado dos empresários da restauração.
"Hoje não sentimos uma grande diferença. Penso que as pessoas ainda estão à espera. Algumas pessoas quiseram ficar dentro, mas está bom tempo, portanto está muita gente na esplanada", explicou Edgar Ferreira, lusodescendente e dono da churrasqueira Nossa que tem dois restaurantes em Paris.
Os clientes estavam contentes por voltarem, mas ficaram surpreendidos com a obrigação de mostrar um código QR da aplicação TousAntiCovid, que alerta os franceses para a possibilidade de terem estado em contacto com alguém infetado pela covid-19.
Ana, portuguesa a viver em Paris, veio até à Nossa no 11.º bairro para um jantar sem pressas, pela primeira vez.
"Já tínhamos comido num restaurante, lá fora, mas tudo à pressa porque tínhamos de voltar a correr para voltar para casa e hoje podemos ir mais tarde. Uma esplanada era algo impensável há algum tempo", sublinhou.
Acompanhada pela família, esta portuguesa mostrou receio face às consequências desta abertura. "Eu tenho receio e acho que daqui a algumas semanas vamos sentir esta grande abertura nos números da pandemia", lamentou.
Ana vai ser vacinada nesta quinta-feira contra a covid. A maior parte das pessoas que a Lusa encontrou nesta noite já estão vacinadas com pelo menos a primeira dose.
"Há algum tempo que deixámos de seguir grande parte dos gestos barreira. Já todas tomámos a primeira dose da vacina e esquecemo-nos. Mesmo a máscara, chateia-me ter de a continuar a usar", explicou Valentine, acompanhada pelas amigas.
Pelo menos até ao final de junho, a máscara vai continuar obrigatória nas ruas e no interior dos locais públicos, já avisaram as autoridades francesas.
Após um ano e meio de pandemia e um profundo desejo de regresso à vida normal, a Lusa questionou se há coisas que os franceses querem guardar da pandemia: "Em seis anos nunca tinha falado com os meus vizinhos e agora sou amiga de três! Temos todos vontade de conhecer novas pessoas e é mais fácil criar laços. Apreciamos ainda mais a nossa vida parisiense de sair e encontrar pessoas", assegurou Julie, que parte esta quinta-feira para um fim de semana prolongado em Faro.
Nas ruas, a festa continuou para além das 23:000 regulamentares, com indulgência por parte das forças da ordem, já que como Rémi lembrou: "Em Paris, quando o tempo está bom, há sempre festa".
Para os empresários da restauração, espera-se que a festa prossiga em força no fim de semana para compensar os meses a fio de encerramento forçado.
César Sousa, lusodescendente e dono do "Passarito", bar de vinhos portugueses no 11.º bairro de Paris, aguarda agora os próximos dias para sentir o grande regresso dos clientes.
"A reabertura acabou por calhar a uma quarta-feira e penso que isso teve influência na situação calma que verificamos. Há 15 dias foi realmente muita gente, hoje menos. Acho que o regresso em força vai ser no fim de semana", concluiu.
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