A lei, que proíbe a "representação" da homossexualidade e da transexualidade em espaços públicos, foi aprovada por 157 deputados, incluindo os do partido no poder, o Fidesz, durante uma sessão parlamentar transmitida ao vivo pela televisão.
Na segunda-feira, esta legislação foi contestada numa manifestação que juntou mais de 5.000 pessoas em Budapeste e que foi convocada pela organização humanitária Amnistia Internacional.
"Amanhã [hoje], quando os deputados votarem, vão lembrar-se que estão a brincar com a vida das pessoas à conta de campanhas políticas cruéis", referiu a Amnistia Internacional em comunicado.
Para esta organização, que acusa a Hungria de "copiar modelos ditatoriais que vão contra os valores europeus", a aprovação da lei constitui uma "grave restrição" à liberdade de expressão e aos direitos das pessoas.
Um canal comercial de televisão, o RTL Klub Hungary, sublinhou na segunda-feira que a aprovação da lei implica proibir os menores de 18 anos de verem filmes como "Bridget Jones", "Harry Potter" ou "Billy Eliot", nos quais a homossexualidade é mencionada.
Além disso, anúncios, como um da Coca-Cola que mostra um casal de homens -- e que provocou, em 2019, apelos a boicotes à compra daquela bebida -- deixam de ter autorização para serem divulgados, tal como o livro "Um conto de fadas para toda a gente" - uma antologia de contos de fadas com personagens como uma Cinderela de etnia cigana ou uma Branca de Neve lésbica -- que foi alvo, no outono de 2020, da ira do primeiro-ministro nacionalista, Viktor Orban.
A legislação hoje aprovada pelo parlamento faz parte de um conjunto de medidas de proteção de menores que, segundo o Governo, visa combater a pedofilia e que inclui a criação de um banco de dados de pessoas condenadas acessível ao público ou o seu banimento de certas profissões.
A Hungria já tinha proibido, em dezembro do ano passado, a adoção de crianças por casais do mesmo sexo e interditado o registo civil de mudanças de sexo.
A Hungria é desde 2004 membro da União Europeia (UE), cuja Carta dos Direitos Fundamentais proíbe qualquer discriminação com base na orientação sexual.
Antes do regresso de Viktor Orban ao poder, em 2010, a Hungria era um dos países mais progressistas da região: a homossexualidade foi descriminalizada no início dos anos 1960 e a união civil entre pessoas do mesmo sexo passou a ser reconhecida a partir de 1996.