Uigures: China comete "genocídio", mas mundo "tem medo" do seu poder

A ativista iraniana Shirin Ebadi considera que a atuação da China em relação aos muçulmanos uigures em Xinjiang "é genocídio", lamentando que o mundo tenha medo do poder de Pequim e feche os olhos à tragédia.

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© Angel Manzano/Getty Images

Lusa
16/06/2021 09:25 ‧ 16/06/2021 por Lusa

Mundo

Shirin Ebadi

 

"A situação dos muçulmanos uigures em Xinjiang é uma tragédia. A China tem agido como um tirano, o que a China está a fazer é genocídio", declarou à agência Lusa a Nobel da Paz 2003 numa entrevista por videoconferência.

Shirin Ebadi falou à Lusa esta semana após participar numa iniciativa relacionada com as Conferências do Estoril, nas quais esteve presente em 2013.

"Milhares de uigures foram mandados para campos, sob o pretexto de (Pequim) lhes ensinar a sua ideologia, para que abandonem a sua religião, o islão, e o mundo está silencioso porque tem medo do poder da China", disse.

A Amnistia Internacional (AI) acusou na semana passada a China de cometer crimes contra a Humanidade na região de Xinjiang (noroeste), num relatório em que denuncia "a repressão esmagadora e sistemática" exercida pelas autoridades chinesas contra as minorias étnicas que habitam em Xinjiang, em particular os uigures e os cazaques.

Detenções sistemáticas e arbitrárias em massa, campos de doutrinação e reeducação, vigilância permanente, atos de tortura e perseguição religiosa são as ações atribuídas ao regime chinês por esta organização internacional de defesa dos direitos humanos.

"Esta é a tragédia do século na minha opinião, que as potências mundiais assistam ao que a China faz aos uigures em Xinjiang, mas não façam nada e fechem os olhos", disse Shirin Ebadi.

A advogada exilada no Reino Unido desde 2009 recordou o que aconteceu ao prémio Nobel da Paz 2010, o intelectual dissidente chinês Liu Xiaobo, lamentando que também neste caso "todo o mundo viu e não fez nada, nem o Comité Nobel".

"Era um professor que devido à sua poesia e aos seus apelos por liberdade (...) foi preso na China. E mantiveram-no na prisão tanto tempo que ele acabou por ficar com cancro, eles não o trataram e dois dias antes de morrer mandaram-no para casa", disse Shirin Ebadi, também perseguida no Irão, adiantando que após a morte de Liu Xiaobo as forças de segurança chinesas "tiraram à força o seu corpo à mulher, queimaram-no e devolveram-lhe as cinzas".

"Estou muito triste por ver que todo o mundo fechou os olhos ao que a China faz a estes uigures em Xinjiang", disse ainda a ativista dos direitos humanos.

No relatório da AI, a secretária-geral da organização, Agnès Callamard, diz que "os uigures, os cazaques e outras minorias muçulmanas enfrentam (em Xinjiang) crimes contra a humanidade e outras graves violações dos direitos humanos que ameaçam apagar as suas identidades religiosas e culturais".

Várias potências ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos, denunciaram em maio, nas Nações Unidas, os alegados abusos do Governo chinês contra a minoria uigure e outros grupos étnicos que vivem em Xinjiang e na cimeira do G7, há alguns dias, foi pedido a Pequim respeito pelos direitos humanos, especialmente naquela província chinesa.

A China, que nega todas as acusações e as considera um pretexto para prejudicar o país, considerou difamatória a declaração final da cimeira do G7, além de uma interferência nos seus assuntos internos.

Leia Também: Nobel da Paz iraniana pede a Guterres para promover mulheres na ONU

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