"Estou feliz por voltar à Costa do Marfim e a África após ter sido absolvido" de crimes contra a humanidade pela justiça internacional, sublinhou, citado pela agência AFP.
As primeiras palavras de Laurent Gbagbo após ter aterrado foram para os dirigentes do seu partido, a Frente Popular Marfinense (FPI), depois de ter sido recebido por milhares de apoiantes.
"Fico com as lágrimas nos olhos ao pensar na minha falecida mãe", disse ainda, em referência à morte ocorrida enquanto estava detido em Haia.
E acrescentou que terá a oportunidade de fazer um discurso político "mais tarde".
A absolvição em 31 de março, e a 'luz verde' do seu opositor, o presidente Alassane Quattara, em nome da "reconciliação nacional", tornou possível este regresso.
Pouco depois de descer do avião que viajou desde Bruxelas, Laurent Gbagbo entrou diretamente num carro e seguiu em direção à sua antiga sede de campanha, onde discursou para membros do partido.
Ao longo da viagem milhares de entusiastas gritaram 'Gbagbo está aqui' e 'Gbagbo está de regresso'.
Pouco antes, jornalistas da AFP ouviram tiros e o lançamento de gás lacrimogêneo perto do aeroporto. Ao longo do dia, a polícia interveio naquela zona e surgiram fotos de feridos nas redes sociais, embora não fosse possível confirmar a sua autenticidade.
A recusa de Laurent Gbagbo em aceitar a derrota nas eleições presidenciais de 2010 frente ao atual chefe de Estado, Alassane Ouattara, desencadeou meses de violência que mataram pelo menos 3.000 pessoas e levaram o país à beira da guerra civil.
Laurent Gbagbo foi detido na residência presidencial e passou mais de uma década fora do país, grande parte da qual à espera de julgamento em Haia por crimes de guerra e contra a humanidade.
O ex-presidente foi libertado há dois anos, mas tem vivido na Bélgica enquanto aguardava o resultado do recurso dos procuradores do TPI.
Uma semana após a absolvição de Gbagbo, Ouattara disse que as despesas de viagem do antigo presidente, bem como as da sua família, seriam cobertas pelo Estado.
No entanto, continua a não ser claro o que acontecerá com outras acusações criminais pendentes contra o ex-presidente na Costa do Marfim.
Gbagbo e três dos seus antigos ministros foram condenados a 20 anos de prisão sob acusações de invadirem a sucursal de Abidjan do Banco Central dos Estados da África Ocidental para obterem dinheiro no meio da crise pós-eleitoral em janeiro de 2011.
Para Ousmane Zina, cientista político da Universidade de Bouaké, "é improvável" que as autoridades marfinenses prendam o ex-chefe de Estado.
"Em última análise, penso que as autoridades da Costa do Marfim não cometerão este erro, que seria um sério golpe para o processo de reconciliação e para a estabilidade do país", disse.
O Tribunal Penal Internacional confirmou em 31 de março a absolvição, pronunciada em 2019, de Laurent Gbagbo, considerando-o definitivamente inocente de crimes contra a humanidade e abrindo caminho para o seu regresso à Costa do Marfim.
Em nome da "reconciliação nacional", as autoridades concederam a Laurent Gbagbo dois passaportes, um comum e um diplomático, no final de 2020.
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