Covid-19. Oposição em Myanmar denuncia vaga e pede ajuda urgente à ONU
O Governo de Unidade Nacional de Myanmar (antiga Birmânia), que se opõe à junta militar, pediu às Nações Unidas assistência humanitária urgente para enfrentar uma nova vaga de covid-19 que estará "fora de controlo".
© Reuters
Mundo Covid-19
Formado por políticos e ativistas que se opõem ao regime instaurado pelos militares, após o golpe de Estado de 01 de fevereiro, o Governo de Unidade Nacional (NUG) alertou que a atual vaga do vírus está "fora de controlo, com o número diário de mortos a aumentar, devido à má gestão da junta militar", disse o grupo numa carta à ONU, divulgada na última noite.
A oposição, que afirma ser o governo legítimo e mantém fidelidade à líder deposta, Aung San Suu Kyi, diz que os dados oficiais emitidos pela junta militar são "a ponta do icebergue", devido a falhas na recolha de dados, testes limitados e uma campanha de vacinação deficiente.
No domingo, foram comunicados 5.285 novos casos de covid-19 e 231 mortes, números que os especialistas dizem não refletir a realidade.
"Os hospitais estão a ficar sem camas e recusam-se a aceitar doentes com covid-19. Há relatos de uma crescente falta de fornecimento de oxigénio aos serviços de saúde, bem como a flagrante e desumana apreensão da produção de oxigénio pelas forças de segurança", acusou o NUG.
Apesar das garantias do líder da junta militar, general Min Aung Hlaing, na semana passada, de que a produção de oxigénio médico é suficiente, os meios de comunicação oficiais têm noticiado problemas ocasionais de abastecimento e enormes filas de pessoas podem ser vistas à espera de comprar garrafas.
Hoje, o jornal pró-governamental The Global New Light of Myanmar publicou fotografias de camiões transportando tanques de oxigénio e entregando-os a hospitais, e afirmou que um navio da Marinha tinha sido destacado para transportar a produção.
O NUG denunciou ainda a perseguição dos militares aos trabalhadores do setor da saúde, que entraram em greve por tempo indeterminado, após o golpe, e se recusam a trabalhar sob a ditadura militar.
A oposição defendeu também que a pandemia no país, que já totaliza 229.521 casos e mais de 5.000 mortos, pode escalar para uma crise regional, e instou a comunidade internacional a agir imediatamente.
O cardeal do país, Charles Maung Bo, apelou a pôr de lado o conflito para combater a "ferocidade" da pandemia.
"Milhares estão infetados, centenas são enterrados apressadamente em cemitérios sobrelotados. Dia e noite a nossa gente espera por oxigénio nas ruas", descreveu, numa carta.
Na quinta-feira, o relator especial das Nações Unidas para os direitos humanos em Myanmar alertou que a nova vaga de covid-19 no país, ligada à variante Delta, exige uma resposta internacional de "emergência".
"A crise (...) é particularmente letal devido à desconfiança generalizada em relação à junta militar", sublinhou Tom Andrews em comunicado, apelando à ajuda da comunidade internacional para estabelecer um órgão politicamente neutro para coordenar a resposta à pandemia em que "os birmaneses podem confiar".
Mais de cinco meses e meio após a revolta militar, a junta não conseguiu controlar todo o país, apesar da brutal repressão, que fez pelo menos 914 mortos, de acordo com números da Associação para a Assistência aos Prisioneiros Políticos.
O exército birmanês justificou o golpe com uma alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro passado, em que o partido liderado por Suu Kyi obteve uma vitória importante, tal como aconteceu em 2015, e cujos resultados foram considerados legítimos pelos observadores internacionais.
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