"A primeira conclusão é que todas as bancadas parlamentares apoiam a presença de tropas estrangeiras em Moçambique, em geral, e em Cabo Delgado, em particular, para debelarem a situação que se vive na província de Cabo Delgado", declarou Alberto Matucutuco, porta-voz da comissão permanente da AR.
Matucutuco, que é também deputado da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, falava em conferência de imprensa no final de uma sessão da comissão permanente, que se pronunciou pela primeira vez desde a chegada, há mais de três semanas, de um contingente militar do Ruanda que já está a lutar contra os insurgentes em Cabo Delgado.
O porta-voz da comissão permanente da AR avançou que o parlamento vai convocar o Governo para a prestação de informações em torno da presença de contingentes estrangeiros no país, a pedido da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição.
"Todas as bancadas parlamentares são unânimes em criar um espaço na próxima sessão da Assembleia da República, que se inicia em outubro, para que o Governo venha à AR para partilhar a situação que se vive em Cabo Delgado", afirmou Alberto Matucutuco.
Os representantes das três bancadas parlamentares, prosseguiu, encorajaram a ação das Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas na luta contra os grupos armados no norte do país.
A Renamo e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro partido, já tinham criticado o executivo por autorizar a presença de militares estrangeiros no país, sem informar o parlamento.
Também organizações da sociedade civil consideraram um desrespeito à AR o envio de contingentes estrangeiros a Moçambique sem comunicar ao parlamento.
As FDS de Moçambique contam, desde o início de julho, com o apoio de mil militares e polícias do Ruanda para a luta contra os grupos armados, no quadro de um acordo bilateral entre o Governo moçambicano e as autoridades de Kigali.
Além do Ruanda, Moçambique terá apoio da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), num mandato de uma força conjunta em estado de alerta aprovado em 23 de junho, numa cimeira extraordinária da organização em Maputo, que debateu a violência armada naquela província, havendo militares de alguns países-membros já no terreno.
Não é publicamente conhecido o número de militares que a organização vai enviar a Moçambique, mas peritos da SADC, que estiveram em Cabo Delgado já tinham avançado em abril que a missão deve ser composta por cerca de três mil soldados.
Grupos armados aterrorizam a província de Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reivindicados pelo grupo radical Estado Islâmico.
Os ataques reclamaram até agora mais de 3.100 vidas, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e estão na origem de mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
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