Os protestos contra o golpe de 1 de fevereiro foram realizados em Yangon e Mandalay, as duas principais cidades do país, além de outras localidades, segundo os media locais e participantes das redes sociais.
Os manifestantes gritaram e mostraram faixas com referência ao levantamento de 8 de agosto de 1988, conhecido como a revolução 8888, quando milhares de estudantes convocaram uma greve geral contra o regime do general Ne Win, que tinha tomado o poder 26 anos antes através de um golpe militar, mergulhando o país na pobreza.
A revolução estudantil, que fez da líder birmanesa Aung San Suu Kyi um ícone, foi violentamente reprimida pelos militares que mataram cerca de 3.000 manifestantes.
"Hoje assinalam-se 33 anos desde a revolução estudantil a favor da democracia e contra a ditadura militar na Birmânia. Recordamos e saudamos todos os heróis da nação que deram as suas vidas", disse em comunicado o político na oposição e no exílio, Dr. Sasa, que é o porta-voz do autodenominado Governo legítimo de Birmânia.
O país, com 53 milhões de habitantes, vive num caos político e social desde fevereiro deste ano, altura em que os militares fizeram um golpe que acabou com o governo democrático de Aung San Suu Kyi, que está presa desde então.
A rejeição ao golpe militar foi demonstrada através de protestos em todo o país, com o movimento de desobediência civil a conseguir travar o governo e parte do setor privado.
De acordo com os últimos números da Associação de Assistência a Presos Políticos (AAPP), a junta militar reprimiu os protestos com extrema violência, tendo morrido pelo menos 960 civis, enquanto mais de 7.000 opositores ao regime foram presos arbitrariamente.
Os militares justificaram o golpe, que pôs termo a um processo democrático que haviam desenhado uma década antes, por suposta fraude eleitoral nas eleições de novembro, as quais o partido de Suu Kyi venceu, como aconteceu em 2015.
O líder da junta militar, Min Aung Hlaing, proclamou-se recentemente primeiro-ministro interino e prometeu realizar eleições democráticas antes de agosto de 2023.
"Os abusos cometidos pelos militares e a destruição da democracia têm sido uma maldição para a Birmânia moderna, e cada episódio trás um novo sofrimento ao povo birmanês. A história repete-se triste e tragicamente", assinalou hoje a Human Rights Watch (HRW) em comunicado.
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