"Nós tínhamos um total de 62.390 mil pessoas, que hoje está dispersa em todos os cantos do país. Uns estão em Pemba [a capital provincial de Cabo Delgado] e outros estão fora, em províncias como Nampula", disse Cheia Carlos Momba, em entrevista à Lusa em Pemba.
Em mais de um ano nas "mãos" de rebeldes, a vila costeira de Mocímboa da Praia, uma das principais do norte da província de Cabo Delgado, foi saqueada profundamente, tendo os insurgentes destruído quase todas as infraestruturas públicas e privadas, bem como os sistemas de energia, água, comunicações e hospitais.
"Eles queimaram tudo", declarou o presidente daquela autarquia, acrescentando que algumas casas que foram poupadas são as mesmas que estes grupos usavam para habitar.
"Depois de eles tomarem aquela vila, tornaram-na na sua base. Suspeito que mesmo o ataque a Palma [em 24 de março deste ano] foi originado e preparado em Mocímboa da Praia", acrescentou.
Cheia Carlos Momba hoje dirige os destinos da vila a partir de Pemba, que fica a mais de 340 quilómetros de Mocímboa da Praia.
Na capital provincial de Cabo Delgado, o governo local instalou provisoriamente um gabinete para os funcionários do Conselho Municipal de Mocímboa da Praia.
"Perdemos quase seis funcionários com estas incursões de malfeitores e atualmente trabalhamos neste escritório improvisado. Os serviços não estão a parar", declarou Cheia Carlos Momba, que considera não haver "qualquer lógica" na atuação dos rebeldes.
"Aquela guerra não tem base nem objetivo. Eles não têm qualquer perspetiva no futuro", frisou.
A vila costeira de Mocímboa da Praia, uma das principais do norte da província de Cabo Delgado, foi a região em que os grupos armados protagonizaram o seu primeiro ataque em outubro de 2017.
Mocímboa da Praia está situada a 70 quilómetros a sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total.
A vila tinha sido invadida e ocupada por rebeldes em 23 de março do ano passado, numa ação depois reivindicada pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico, e foi, em 27 e 28 de junho daquele ano, palco de longos confrontos entre as forças governamentais e os grupos insurgentes.
Desde 08 de agosto deste ano, a força conjunta de Moçambique e do Ruanda controla a vila, mas, segundo as autoridades, ainda não há condições para regresso das populações.
Além do Ruanda, Moçambique tem agora apoio da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), num mandato de uma "força conjunta em estado de alerta" aprovado em 23 de junho, numa cimeira extraordinária da organização em Maputo que debateu a violência armada naquela província, havendo militares de alguns países-membros já no terreno
Na sequência dos ataques, que aterrorizam a província de Cabo Delgado desde 2017, há mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
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