"As autoridades guineenses duvidam do diagnóstico clínico, mas não duvido da minha análise. Sou infeciologista e clínico, não podemos estar errados na apresentação clínica", disse o porta-voz do Ministério da Saúde e chefe do departamento de Doenças Infeciosas e Tropicais do Hospital Universitário de Treichville, em Abidjan, Serge Eholié.
"Quando falamos da doença do vírus do Ébola, existem várias formas", acrescentou, citado pela agência France-Presse, sublinhando que a doente "tem todos os sintomas" detetados durante a epidemia que atingiu a Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa entre 2013 e 2016.
De acordo com Eholié, a paciente tem sintomas como febre, diarreia, vómitos e cansaço.
Da mesma forma, o chefe do departamento do hospital em que a paciente foi diagnosticada com Ébola, apontou que o Instituto Pasteur de Abidjan, que analisou as amostras recolhidas, "foi acreditado pela OMS para eventos hemorrágicos, pelo que é capaz de analisar as febres de Ébola".
O ministro da Saúde da Guiné-Conacri, Rémy Lamah, apontou, numa carta citada pela agência noticiosa, que a "melhoria dos sintomas da doença e a melhoria do quadro clínico em 48 horas levanta questões, atendendo à evolução clássica da doença".
O ministro guineense salientou também na missiva à Organização Mundial da Saúde (OMS) que a equipa médica enviada a Abidjan não teve acesso à paciente.
Da mesma forma, Lamah apontou que a cidade de Labé, de onde é proveniente a jovem guineense, "não registou qualquer caso da doença do vírus Ébola durante os surtos nacionais de 2014-2016 e 2021".
"Tendo em conta o exposto, a Guiné solicita às autoridades costa-marfinenses, através da OMS, uma reconstituição deste caso através do Instituto Pasteur de Dakar e, se possível, outro laboratório acreditado", referiu o ministro na epístola.
O caso da febre hemorrágica de Ébola foi detetado no sábado em Abidjan, numa jovem guineense de 18 anos, que chegou à Costa do Marfim em 11 de agosto, depois de viajar mais de 1.500 quilómetros por estrada.
A OMS disse que é "extremamente preocupante" que o caso tenha ocorrido em Abidjan, uma cidade que conta com mais de quatro milhões de pessoas, dois meses depois de ter sido anunciado o fim da epidemia de Ébola na Guiné-Conacri.
O caso é o primeiro na Costa do Marfim desde 1994.
A Guiné-Conacri registou recentemente um novo surto de Ébola, declarado extinto em junho.
O vírus do Ébola é transmitido por contacto direto com o sangue e fluidos corporais de pessoas ou animais infetados, causando hemorragia grave e tem uma taxa de mortalidade de 90%.
A pior epidemia desta doença conhecida no mundo foi declarada em março de 2014, com os primeiros casos que remontam a dezembro de 2013 na Guiné-Conacri e que, posteriormente, se expandiu para Serra Leoa e Libéria.
A Organização Mundial de Saúde sinalizou o fim da epidemia em janeiro de 2016, depois de registar 11.300 mortes e mais de 28.500 casos, embora a agência das Nações Unidas tenha admitido que estes números podem ser conservadores diante da situação encontrada naqueles países africanos.
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