"Esperamos formar um governo inclusivo antes do prazo estabelecido para a retirada das forças norte-americanas do Afeganistão", afirmou à agência EFE Zabihulla Mujahid, a partir do seu escritório na capital afegã, Cabul.
Na segunda-feira, duas fontes do movimento extremista, citadas pela agência France-Presse (AFP), tinham afirmado que a formação de um governo no Afeganistão não seria anunciada enquanto houvesse soldados norte-americanos no país.
"Foi decidido que a formação do governo (...) não será anunciada enquanto um único soldado norte-americano estiver no Afeganistão", disse então uma dessas fontes.
A informação seria confirmada à AFP no mesmo dia por uma segunda fonte.
Desde que tomaram o poder no Afeganistão, após vitórias militares consecutivas em quase todo o território afegão e a conquista de Cabul em dia 15 de agosto, os principais líderes do movimento talibã têm trabalhado para formar um executivo que, segundo garantem, irá representar todo o país.
Um grupo de líderes políticos afegãos tem participado em conversações com os talibãs, mas ainda é incerto se alguma das figuras dos governos afegãos anteriores, que lutaram contra os insurgentes, irá ocupar algum lugar num futuro executivo.
Um dado a ter em conta nestas conversações que têm decorrido nos últimos dez dias é a ausência de mulheres, o que faz antever que representantes do sexo feminino não terão lugar na nova liderança afegã.
Em declarações à EFE, Zabihulla Mujahid reiterou que será decretada uma "amnistia geral para todos", uma garantia já feita anteriormente pelos talibãs e que, segundo os insurgentes, pretende assegurar que todos, incluindo os militares e os responsáveis que lutaram contra o movimento extremista, serão ilibados pelos papéis que desempenharam na anterior liderança afegã.
"Quem quiser regressar ao país pode fazê-lo", disse o porta-voz, sem mencionar nomes.
Estas declarações de Zabihulla Mujahid surgem num momento em que milhares de afegãos, nomeadamente ativistas, jornalistas, militares e políticos, estão a tentar deixar o país por temerem represálias por parte dos insurgentes.
No dia da tomada de Cabul, o então Presidente afegão, Ashraf Ghani, abandonou o país.
Face à brutalidade e interpretação radical do Islão que marcou o anterior regime liderado pelos insurgentes (1996-2001), os talibãs têm assegurado aos afegãos que a "vida, propriedade e honra" vão ser respeitadas e que as mulheres poderão estudar e trabalhar.
"Desde o início, o Emirado Islâmico [como os talibãs se autodenominam] não mantém prisioneiros, nem ninguém das forças de segurança afegãs sob custódia", garantiu Zabihulla Mujahid.
A tomada de Cabul pelos talibãs foi o culminar de uma ofensiva que ganhou intensidade a partir de maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e dos seus aliados da NATO, incluindo Portugal, do território afegão, após uma presença que durou 20 anos.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista, que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
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