Há cerca de duas semanas, a jornalista afegã Beheshta Arghand fez história no país ao entrevistar, em direto, um membro sénior talibã, algo que "seria impensável" para uma mulher entre 1996 e 2001, durante a última vigência do movimento radical islâmico.
O canal noticioso afegão Tolo abriu o programa principal com Arghand a reivindicar o papel das mulheres e os importantes ganhos de direitos alcançados nas últimas duas décadas e depois falou com Mawlawi Abdulhaq Hemad (imagens abaixo), da equipa de comunicação talibã, sobre a situação em Cabul e as buscas domiciliárias na cidade.
A entrevista foi elogiada como um ato de coragem e noticiada em todo o mundo.
Dois dias depois, a jornalista de apenas 24 anos de idade voltou a ser notícia, ao entrevistar a ativista e sobrevivente de um ataque talibã Malala Yousafzai, na sua primeira entrevista a uma televisão afegã.
TOLOnews and the Taliban making history again: Abdul Haq Hammad, senior Taliban rep, speaking to our (female) presenter Beheshta earlier this morning. Unthinkable two decades ago when they were last in charge @TOLOnews pic.twitter.com/XzREQ6ZJ1a
— Saad Mohseni (@saadmohseni) August 17, 2021
Agora, porém, todo o seu trabalho terá de ser colocado em suspenso, uma vez que decidiu ser mais seguro sair do Afeganistão, por causa do perigo que enfrenta. "Saí do país porque, como milhões de pessoas, tenho medo dos talibãs", disse, em entrevista à CNN.
O dono do canal de notícias afegão TOLO, que manteve à frente das câmaras, nas ruas e em estúdio, as suas jornalistas mulheres, num ato de coragem após a tomada de Cabul por parte dos talibãs, disse que o caso de Arghand não é isolado. "Quase todas as nossas repórteres e apresentadoras mais conhecidas foram-se embora", disse Saad Mohseni.
Recorde-se que, este fim de semana, foi anunciado que serão banidas as vozes femininas nas rádios e na música, assim como as apresentadoras na televisão, na província de Kandahar, onde se julga estar localizado o líder supremo dos talibãs, Hibatullah Akhundzada.
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