Numa conferência de imprensa com o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, Merkel referiu-se a conversações com alguns países sobre "uma presença temporária ou mais forte em Cabul ou na região" também a nível europeu, para se "poder estabelecer um contacto contínuo com os talibãs", que nada tem que ver, frisou, com um "reconhecimento diplomático".
"Trata-se de ter diplomatas próximos para falar com os talibãs. Temos que ver como havemos de manter os contactos", observou.
Outra questão é a reabertura do aeroporto de Cabul para voos civis, para o que a Alemanha está disposta a prestar ajuda técnica, disse, acrescentando que o seu funcionamento é "essencial" para fazer chegar ao Afeganistão ajuda médica e humanitária.
Por outro lado, Merkel defendeu que ainda não chegou o momento de falar de contingentes de refugiados, porque, para discutir tal coisa, é primeiro necessário saber "qual é a dimensão migratória fora do Afeganistão", como afirmou o Alto-Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi.
Segundo Grandi, o principal problema agora é a migração interna, indicou Merkel.
Por isso, a questão central para a Alemanha, agora, é a situação dos colaboradores afegãos, "que não são 300, mas provavelmente entre 10.000 e 40.000", referiu, acrescentando que depende também de quantos deles querem sair ou permanecer no país, em função "das condições que os talibãs criarem".
Os ministros do Interior da União Europeia (UE) vão tentar hoje, numa reunião extraordinária em Bruxelas, acordar uma resposta coordenada à situação no Afeganistão que impeça uma crise migratória como aquela causada em 2015 pela guerra na Síria.
Muitos Estados-membros da UE já manifestaram disponibilidade para receber afegãos que fogem do país por receio de represálias dos talibãs, tendo um grupo de 36 refugiados retirados de Cabul chegado no sábado a Lisboa, o que perfaz um total de 61 refugiados afegãos até agora recebidos por Portugal.
Os talibãs conquistaram Cabul em 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO, que se encontravam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, autor moral dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.
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