As autoridades chinesas fustigaram a partida apressada dos Estados Unidos e o custo humano e económico que os norte-americanos deixam para trás após a reconquista de poder por parte dos talibãs.
Washington completou a retirada de tropas do Afeganistão na segunda-feira à noite, colocando um ponto final inglório na guerra mais longa da América, enquanto os talibãs celebravam a vitória na capital Cabul.
"O Afeganistão conseguiu libertar-se da ocupação militar estrangeira. O povo afegão congratula-se com este novo ponto de partida para a paz e a reconstrução nacional. O Afeganistão está a abrir uma nova página na sua história", afirmou Wang Wenbin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em conferência de imprensa.
A China, que faz fronteira com o Afeganistão, mantém a sua embaixada em Cabul aberta, depois de ter retirado há várias semanas os seus cidadãos que desejavam sair do país, devido à deterioração da situação de segurança.
Pequim continua a manter conversas com os talibãs, mas está à espera de ver a composição do futuro governo antes de decidir se reconhece o novo regime.
A China continua desconfiada da atitude dos talibãs em relação aos militantes separatistas uigures no Afeganistão que procuram infiltrar-se na região fronteiriça chinesa de Xinjiang, alvo de numerosos atentados no passado.
"Esperamos que o Afeganistão forme um governo aberto, inclusivo e de base ampla" e "combata firmemente todas as forças terroristas", indicou Wang Wenbin.
Uma delegação talibã encontrou-se no final de julho, na China, com o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, e que prometeu que o solo afegão nunca seria utilizado para ataques contra os chineses.
A China pode revelar-se uma valiosa fonte de apoio económico para o novo Afeganistão liderado pelos talibãs, mas o investimento chinês só vai fluir no país se a segurança for restaurada, segundo os especialistas.
Os talibãs conquistaram Cabul em 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A tomada da capital pôs fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e aliados na NATO, incluindo Portugal.
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