Primeiro, alguns atribuíram o ataque, que causou mortes, a grupos antifascistas, teoria que foi rapidamente afastada, e depois apareceram as designações dos atacantes como manifestantes pacíficos e até turistas.
Agora, os aliados do antigo presidente estão a designar os detidos acusados pelo ataque ao Capitólio como "prisioneiros políticos", o que é um esforço admirável para rever a narrativa desse dia com mortos.
A retórica abrasiva, antes do evento de fim de semana é a tentativa mais recente dos seguidores de Trump explicarem o ataque e minimizarem o que se viu: amotinados leais ao antigo presidente invadiram o edifício, atacaram polícias e tentaram impedir que o Congresso certificasse a vitória eleitoral do então candidato presidencial democrata, Joe Biden.
"Algumas pessoas estão a reescrever a narrativa para que o '06 de janeiro' pareça uma coisa sem importância, quando foi extremamente relevante e um ataque à nossa democracia", afirmou Heidi Beirich, cofundadora do Projeto Global Contra o Ódio e o Extremismo, que estuda os movimentos extremistas.
Esta tentativa de branquear os ataques de 06 de janeiro ameaça dividir ainda mais uma nação já polarizada, que está a afastar-se do que têm sido factos e compromissos partilhados com uma ordem cívica para um novo contexto de instabilidade social.
Os EUA, mais do que estarem a sarar, oito meses depois do ataque, estão em risco de se dividirem ainda mais, com a aproximação de novas eleições.
A quantidade dos manifestantes esperados e a intensidade do evento marcado para sábado são desconhecidas, mas a polícia está a preparar-se para os cenários mais difíceis. Foram requisitadas barreiras de segurança para o edifício e os agentes que vão reforçar a Polícia do Capitólio estão a ser instruídos na articulação com esta.
Desconhece-se se os grupos de extrema-direita e outros apoiantes de Trump que atacaram o Capitólio em janeiro vão participar neste evento. Apesar de serem uma parte pequena dos atacantes de 06 de janeiro, são acusados de alguns dos crimes mais graves cometidos durante o ataque ao Congresso.
O organizador da manifestação, Matt Braynard, um antigo estratega da campanha eleitoral de Trump, tem estado a promover o evento e outros similares em cidades dos EUA, focando-se no que designa por "prisioneiros", que estariam a ser acusados injustamente pelo seu envolvimento nos motins de 06 de janeiro.
Contudo, quando Trump considera abertamente participar nas próximas eleições presidenciais, muitos dos congressistas republicanos que participaram no seu esforço de contestar a vitória de Biden estão a manter-se afastados do evento de sábado.
Solicitados a prestarem declarações pela AP, vários congressistas republicanos apoiantes de Trump declinaram responder.
Foi o caso de Mo Brooks, do Alabama, que participou na manifestação de 06 de janeiro, onde Trump encorajou a multidão a ir para o Capitólio, de Ted Cruz, do Texas, que contestou contagens de votos, ou ainda Josh Hawley, do Montana, que foi fotografado a saudar a multidão quando esta forçava a entrada no Capitólio.
Mais de 600 pessoas estão a enfrentar acusações federais pelo ataque ao emblemático edifício, em resultado do qual cinco pessoas foram mortas e dezenas de polícias feridos, enquanto vários congressistas se procuravam esconder. Posteriormente, vários agentes policiais suicidaram-se.
Mais de 60 acusados já se declararam culpados, mas só uma pequena parte está detida à espera de julgamento.
O congressista democrata Adam Schiff, eleito pela Califórnia, que preside à comissão das Informações, da Câmara dos Representantes, e integra o painel que está a investigar o ataque de 06 de janeiro, disse que os que violaram a lei têm de ser acusados, "caso contrário, apenas se estaria a racionalizar, a desculpar e a encorajar mais do mesmo".
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